terça-feira, 20 de outubro de 2009

VIVENDO NO CHEQUE ESPECIAL DA NATUREZA - Por Fátima Cardoso, do Instituto Akatu

Em 2009, o dia 25 de setembro foi a data em que a humanidade passou a consumir mais recursos do que a Terra é capaz de produzir

A notícia passou quase despercebida e não foi manchete de nenhum jornal. Mas, desde 25 de setembro, a humanidade entrou no “cheque especial” da natureza. A data marcou o Earth Overshoot Day, que pode ser traduzido como o Dia da Ultrapassagem do Limite da Terra — quando os seres humanos passaram a consumir mais recursos naturais e serviços ecológicos do que o planeta poderia oferecer neste ano. Entre esses recursos e serviços estão, por exemplo, absorver o CO2 emitido pela queima de combustíveis ou proporcionar solo e água suficientes para garantir plantações de alimentos. O cálculo foi feito pela Global Footprint Network, instituição que desenvolve e aplica a ferramenta da pegada ecológica. Pegada ecológica é uma medida que calcula a área produtiva necessária, de terra e de mar, para produzir tudo o que consumimos (como alimentos, roupa e energia) e também para absorver os resíduos que geramos (incluindo a emissão de gases de efeito estufa). Quando a pegada ecológica da humanidade é comparada à disponibilidade de recursos oferecidos pelos ecossistemas, sabemos se consumimos mais ou menos do que deveríamos. E estamos há muito tempo nos empanturrando do que já é escasso. Se alguém fica devendo no cheque especial, o banco cobra juros. A natureza não pode fazer isso, mas nos manda a conta à sua maneira: se pescamos mais peixes do que a capacidade dos cardumes de se recomporem, aquela população decresce e pode até mesmo desaparecer, como vem ocorrendo em várias partes do oceano. A capacidade do planeta de absorver a quantidade de CO2 que emitimos há muito foi superada, resultando no aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, o que tem provocado o aquecimento global e pode levar a mudanças climáticas irreversíveis. “É um simples caso de renda versus gasto”, disse Mathis Wackernagel, presidente da Global Footprint Network, ao anunciar o Earth Overshoot Day deste ano. “Durante vários anos, nossa demanda sobre a natureza tem superado, por uma margem cada vez mais crescente, o orçamento do que a natureza pode produzir. As ameaças urgentes que estamos vendo agora — principalmente as mudanças climáticas, mas também a perda de biodiversidade, a redução de florestas, o declínio da pesca, a erosão do solo e o stress hídrico — são todos sinais claros: a natureza está ficando sem crédito para continuar emprestando.”

Consumo desigual entre os países
Atualmente, de acordo com a pegada ecológica, cada habitante do planeta tem 2,1 hectares disponíveis em recursos naturais para atender suas necessidades de casa, comida, roupas e energia. A pegada ecológica global, entretanto, é de 2,7 hectares por habitante. Esse sobreconsumo não é distribuído igualmente entre os países, pois enquanto alguns se empanzinam, outros passam fome. Veja a pegada ecológica de alguns países (em hectares/habitante) :

Emirados Árabes Unidos — 9,5
Estados Unidos — 9,4
Kuait — 8,9
Dinamarca — 8,0
Austrália — 7,8
Nova Zelândia — 7,7
Brasil — 2,4
Índia — 0,9
Bangladesh — 0,6
Afeganistão — 0,5
Haiti — 0,5
Congo — 0,5

A primeira vez que a humanidade exigiu da Terra mais recursos do que ela pode prover foi em 1986. Dez anos mais tarde, já usávamos 15% a mais do que havia disponível, e o Earth Overshoot Day acontecia em novembro. Atualmente, usamos os recursos naturais a uma velocidade 40% maior do que o planeta é capaz de recompor. Nem mesmo a crise econômica que começou em meados de 2008 e se estendeu por 2009 foi capaz de alterar o quadro. É certo que, a cada ano, graças à nossa crescente voracidade, o Earth Overshoot Day acontecia entre quatro e seis dias mais cedo do que o ano anterior. Em 2009, ele ocorreu um dia mais tarde do que em 2008, o que não significa grande alívio. “O fato é que, apesar de uma situação econômica mundial muito grave, nós ainda estamos muito além do orçamento em nosso uso da natureza”, disse Wackernagel. “O desafio é encontrar um jeito de reduzir a ultrapassagem do limite em tempos de fartura assim como em anos de vacas magras. Como podemos manter economias saudáveis e prover o necessário ao bem estar dos seres humanos de um jeito que não dependa da liquidação dos recursos e do acúmulo de CO2? Essa será a questão crucial do século XXI.”
"A inquietude não deve ser negada, mas remetida para novos horizontes e se tornar nosso próprio horizonte." Edgard Morin

segunda-feira, 22 de junho de 2009

guerra contra o Código Florestal ‘recentemente’ aprovado (em 1965), por Henrique Cortez


[Ecodebate] Muitos protestam contra a ‘repentina’ exigência de cumprimento do Código Florestal. Afinal, estamos em 2009 e o código ‘apenas’ foi aprovado em 1965. É, evidentemente, muito repentino, uma ’surpresa’, algo realmente inesperado.
Em 1965 a expansão da fronteira agropecuária praticamente não atingia o Cerrado e a Amazônia. De 1965 para cá quem desmatou além do permitido sabia que estava desmatando ilegalmente e o fez deliberadamente. Não é uma vítima inocente de uma lei injusta aprovada ‘ontem’.
Nos últimos 10 anos centenas de nascentes e olhos d’água foram simplesmente esgotados, apenas no entorno do DF. Incontáveis áreas de recarga de aquíferos foram devastadas ou contaminadas com agrotóxicos, muitos dos quais ilegais. Tudo em nome da “ produção nacional de grãos, um dos esteios da economia brasileira”…
A Constituição brasileira ou de qualquer lugar do mundo não garante direitos adquiridos pela ilegalidade. A ninguém é facultado o direito de cumprir ou não a lei. Ilegalidade não se relativiza.
Estas são questões que discutimos no editorial A ‘guerra’ ruralista contra o meio ambiente.
Pode-se discutir a situação anterior à vigência do Código Florestal, mas não há o que discutir quanto ao desmatamento ilegal após 1965.
No período de 2005 a 2008 foram desmatados ao menos 102.938 hectares de cobertura florestal nativa da Mata Atlântica, ou dois terços do tamanho da cidade de São Paulo. Não se pode dizer que o período de 2005 a 2008 tenha ocorrido ‘pouco’ depois de 1965 ou que não houve tempo de adaptação às exigências legais.
Mas, neste caso em especial, o governo é co-responsável na devastação porque a Lei da Mata Atlântica foi sancionada em 2006, mas regulamentada somente no fim de 2008. Outra lei destinada a ser ignorada.
Tanto fala-se da impunidade em nosso país, tanto discute-se que no estado democrático o império da lei é inquestionável, mas, quando interessa, o poder econômico luta para defender a impunidade.
Os ruralistas e sua leal bancada no Congresso ’sobem o tom’ em defesa da ilegalidade. De nossa parte ’subimos o tom’ em defesa da lei.
Mas não há o que distutir. A lei deve ser cumprida e ponto final.

BYE BYE BEE, por Luiz Eduardo Cheida (*)



Se as abelhas desaparecerem, ao homem restarão não mais que quatro anos de vida(Einstein, mas de autoria não confirmada)
Com um pouco de esforço, algumas tinturas, quatro asas, e um espartilho disfarçando a barriga, consegui entrar na colméia. Era cedo e a maior parte das operárias já batia o ponto longe dali. De entrada, varejei pra longe, no safanão, um zangão que me olhava interessado nas partes subalternas.
- Respeito é bom e todo mundo gosta! – gritei.
A sociedade, e até o que apanhou, ainda com as seis patas pra cima como quem andasse de bicicleta, aprovou.
Sob disfarce, estava ali para investigar o sumiço de abelhas. Revistas especializadas davam conta de que, nos últimos dois anos, só nos Estados Unidos, 37% das colméias acabaram.
- No Brasil também houve grandes perdas. Também na Austrália, China, Canadá e outras regiões – eu gesticulava para chamar a atenção - Um terço da produção agrícola mundial depende das abelhas. As monoculturas demandam intensa atividade polinizadora por curtos períodos do ano.
- E os morcegos? E as abelhas silvestres? A sonoridade da voz não deixou dúvidas. Curvei-me, respeitosamente: - Majestade...
- Por favor, continue – ela disse, saboreando um naco de geléia real.
- Eles não dão conta. Só vocês, digo, apenas nós, organizamos exércitos polinizadores em qualquer época, onde haja flores a visitar – respondi.
- Um altruísta entre nós! – sorriu ela, fixando seus cinco olhos em mim.
- A rainha tem ciência de que, se continuarmos sumindo, ficarão sem polinizadores as culturas de milho, batata, trigo, arroz, frutas, legumes, brócolis, conservas e até o leite de vaca! Uma desmoralização para nós.
- Leite? – estranhou uma operária bebê, cheirando o ar com suas antenas.
- Sim – socorreu um idoso zangão – nos milhares de vôos nupciais de que participei, e retornei de mãos abanando, pude ver que vacas confinadas exigem ração rica em proteínas, que depende de polinização. E, aproveitando: - Mas, o que tem feito nossos parentes desaparecerem?
- Má nutrição é uma delas. Não temos mais a variedade de flores para coletar alimento. Os cultivos em grandes extensões não deixam mato ou cerca viva. Extensos gramados, para nós polinizadores, são como desertos. As defesas naturais das abelhas podem estar enfraquecidas por má nutrição.
Eu ia falando e o povinho ia chegando mais perto. A rainha, com um lenço bordado, enxugou uma pocinha embaixo dos olhos. Continuei:
- Análises de amplo espectro, sensível a fungicidas, inseticidas e herbicidas, revelou mais de 170 substâncias diferentes no corpo das abelhas, a maior parte armazenadas de pólens.
- Tonteia, mas não mata – zuniu uma ofegante operária que chegava.
- Diretamente, não – eu disse – entretanto, eles inibem nossas respostas imunitárias. Ficamos mais vulneráveis ao ataque de ácaros e vírus. Por sinal, o vírus da paralisia aguda israelense (IAPV) tem matado muitas das nossas por convulsões paralisantes.
A colméia estava muda. Pisei mais fundo:
- Em Brotas, no vizinho estado de SP, em um único caso, a pulverização aérea exterminou 200 colméias! Exposições a doses subletais de veneno fazem abelhas perderem a direção do caminho de casa. E, desaparecem.
- Pensei que a gente fosse importante... – encolheu-se a pequena operária.
- É claro que somos! – amparei-a, como quem tirasse uma faca de seu peito – Veja você: uma única abelha, em busca de pólen e néctar, visita 10 flores por minuto. Ao fim de um dia, fazendo em média 40 vôos, ela toca 40 mil flores. E, uma colméia chega a ter 80 mil abelhas. Para chegar a 1 quilo de mel, precisamos retirar néctar de 5 milhões de flores. Como 30% da produção mundial de alimentos depende da polinização que fazemos, só em valores econômicos, nossa contribuição é de 9,5% do valor da produção agrícola. Ou seja: US$ 135 bilhões ao ano. Não somos importantes?
Ela sorriu. E um zum zum de satisfação percorreu a colméia. Foi quando a rainha, levantando-se, determinou:
- Ficaremos longe das plantações que contenham herbicidas, fungicidas e os mortais inseticidas. Doravante, ao mínimo ronco de motores dos aviões polinizadores, sumiremos do mapa! Daremos preferência à polinização de áreas com cultivo de espécies vegetais variadas e, o que é melhor, vamos criar um esquadrão especializado em repolinizar espécies nativas! Este é o Plano Real. É isso ou bye bye bee! [N.T: tchau tchau abelha!]. Ao trabalho!
Enquanto eles se organizavam, me espremi entre um favo e outro e, lambuzado de mel, mas satisfeito, pulei pra fora. Já longe da colméia, percebi que minha cara estava azul e, de pescoço, só duas veias estufadas.
- O espartilho!!! – dei um tapa na testa.
Afrouxando o danado, pude estufar a barriga, desinchando o pescoço.
E fui voando pra casa, botar mel na minha pinga. Um forte abraço e até sexta que vem.


(*) Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

Este recado pode ser reproduzido, mantido o texto original e o currículo do autor.


quinta-feira, 18 de junho de 2009

SENADORA E EX-MINISTRA DO MEIO AMBIENTE, MARINA SILVA, RECEBE PRÊMIO SOFIA, EM OSLO - NORUEGA

'Que o bem que conseguirmos espalhar em nosso tempo possa inundar de esperanças os sonhos daqueles que ainda não nasceram.'

MARINA SILVA – EX-MINISTRA DO MEIO AMBIENTE DO BRASIL –
SENADORA PELO PARTIDO DOS TRABALHADORES,
NO RECEBIMENTO DO PRÊMIO SOFIA, EM OSLO, NORUEGA, 17/06/2009.
Discurso da Senadora Marina Silva – Oslo – Noruega - Cerimônia de entrega do Prêmio Sofia
17/6/2009
Primeiramente quero agradecer a Deus por estarmos aqui.

Quero agradecer também ao senhor Jostein Gaarder por criar o Prêmio Sofia para incentivar as pessoas a lutar por um mundo sustentável e que hoje tenho a honra de recebê-lo.

Quero agradecer também ao professor Donald Sawyer pela minha indicação ao prêmio e a minha assessora Jane Vilas Boas.

Agradeço de forma especial ao Colegiado da Fundação Sofia que me escolheu, bem como toda a atenção e carinho que venho recebendo da Fundação nas pessoas da presidente do Conselho Nina Drange e da diretora Mari Sager.

Agradeço ainda a meu pai e a meu esposo e filhos por todo o suporte que me têm dado em todos esses anos de dedicação ao cuidado com o meio ambiente.

Quero agradecer também a dois importantíssimos parceiros de luta em favor da proteção da Amazônia e de todas as florestas tropicais do planeta, que tenho aqui na Noruega, que são o ministro do Meio Ambiente e da Cooperação Internacional Erik Solheim e o diretor da Rainforest Foundation, o amigo Lars Lovold.

Quero também cumprimentar a todos que me honram com suas presenças, na pessoa do embaixador do Brasil, dr. Sérgio Moreira Lima.

Ser premiada por trabalhar pelo meio ambiente é para mim muito gratificante.

Trabalhar pelo reforço da consciência da defesa do meio ambiente e da importância das alternativas de desenvolvimento sustentável é um imperativo ético na minha vida.

Não posso aqui deixar de fazer um reconhecimento pelas contribuições a minha formação e pelo apoio de meus companheiros do Acre, meu estado de origem.

Primeiramente é fundamental reconhecer o imenso aprendizado que tive com Chico Mendes e o apoio e proteção que recebi de Dom Moacir Grecchi, bispo da diocese de Rio Branco, tanto em minha vida pessoal quanto em minha militância política.

Agradeço também a meus companheiros Jorge Viana, ex-governador do Acre, Arnóbio Marques, atual governador do Acre e o jornalista Toinho Alves, nas pessoas de quem agradeço a todos os demais companheiros e a todo povo de meu estado.

Quero dividir a honra e o reconhecimento deste prêmio com o Presidente Lula, a quem devo a oportunidade de ter sido parte de sua equipe de governo no ministério do Meio Ambiente;

Compartilho também a honra e o reconhecimento deste prêmio com todos os membros de minha equipe nas pessoas de:
· João Paulo Capobianco, que foi Secretário de Biodiversidade e Florestas e depois vice-Ministro e

· Tasso Azevedo, que trabalhou intensamente na concepção do Fundo Amazônia.

Como disse, nessas pessoas agradeço a todos os servidores do Ministério do Meio Ambiente que junto comigo, com grande entusiasmo e confiança se dispuseram a desenvolver uma gestão caracterizada pelo controle e participação social exercido por milhões de brasileiros e organizações da sociedade civil, através das Conferências Nacionais de Meio Ambiente e de diversos conselhos setoriais.

Nossa gestão buscou promover a visão do desenvolvimento sustentável, por meio da inserção da variável socioambiental no planejamento das ações dos demais setores do governo, bem como priorizou o fortalecimento e a modernização da governança ambiental.

Como fruto desse processo é que surgiu o Plano de Ação para a Prevenção e o Controle do Desmatamento da Amazônia Legal, coordenado pelo núcleo central do governo, com a participação de vários ministérios, com orçamento específico, transparência das informações e intensas ações de combate à corrupção nas instituições públicas.

Definimos mais de uma centena de ações estratégicas segundo os três eixos de atuação do Plano:

· Monitoramento e combate aos crimes ambientais
· Ordenamento territorial e fundiário e criação de áreas protegidas e
· Incentivo às atividades produtivas sustentáveis.

Esse processo resultou na redução de 57% na taxa de desmatamento da Amazônia, entre 2005 e 2007, evitando que mais de um bilhão de toneladas de CO2 fossem lançadas na atmosfera.

Resultou também na criação de 340 mil km2 de unidades de conservação e terras indígenas, ou seja, uma área equivalente ao território da Alemanha.

Destaco aqui, o aumento das áreas destinadas às populações extrativistas, grupo social de origem de Chico Mendes, que passaram de 50 mil para 100 mil km2, bem como a criação de uma política de desenvolvimento sustentável voltada para essas comunidades.

Para isso, foi necessária uma forte ação de combate aos crimes ambientais, onde apreendemos mais de 1 milhão de metros cúbicos de madeira ilegal, o que equivale a uma fila contínua de 500 km de carretas carregadas de madeira. Além da prisão de 750 pessoas, dentre empresários, advogados e servidores públicos que agiam ilegalmente, bem como o desmonte de mais de mil empresas ilegais.

Implantamos, ainda, um avançado sistema de monitoramento, que emite informações quase em tempo real e permite um ajuste permanente nas estratégias de fiscalização, bem como possibilita manter a sociedade informada e mobilizada para fiscalizar as ações do governo.

No plano internacional, conseguimos importantes conquistas como a reformulação da posição histórica do Brasil, no âmbito da Convenção de Mudanças Climáticas, a partir da proposta de criação de incentivos positivos para a redução das emissões oriundas da diminuição do desmatamento das florestas tropicais, de onde se originou a proposta do Fundo Amazônia, da qual o governo da Noruega é incentivador e apoiador desde o início.

Finalmente quero compartilhar uma convicção que tenho firmado a partir dos informes, cada vez mais preocupantes, que nos trazem os cientistas, sobre a iminência da maior da catástrofe ambiental que a humanidade já viveu e que requer uma atitude forte, rápida e responsável da parte de todo nós, governos, empresas e sociedade.

Precisamos estabilizar o aumento da temperatura média anual do planeta abaixo de 2°C. Para isso será preciso empreender um esforço descomunal, para descarbonizar as economias do mundo até o final do século.

Para tanto, segundo as últimas avaliações científicas, será necessário reduzir as emissões mundiais em, no mínimo, 80% em relação aos níveis de 1990 até meados do século.

Certamente que os países ricos precisam assumir uma postura compatível com suas responsabilidades históricas e que, critérios de equidade, devem ser levados em conta no que concerne aos compromissos dos países pobres.

O Brasil precisa usar sua credibilidade internacional para ajudar os demais países a saírem da inércia e estabelecer uma nova dinâmica no processo de negociação dos compromissos da Convenção de Mudanças do Clima.

Concordo com aqueles que, no Brasil, defendem a criação de um calendário de limites de emissões globais, dividindo compromissos distintos entre três grupos de países:

· Os países desenvolvidos,
· Países emergentes e
· Os demais países em desenvolvimento.

Estima-se que cerca de 50% das emissões brasileiras sejam oriundas de desmatamento e, portanto a meta de redução do desmatamento em 80% até 2020 é uma significativa contribuição para redução das emissões globais, mas esse esforço pode ser anulado se o mesmo comprometimento não for assumido também pelos demais países emergentes.

Acho que está mais do que na hora do Brasil defender na conferência das partes das Nações Unidas no final deste ano, que se realizará em Copenhague, o estabelecimento de uma meta global de redução de emissões para 2020, 2030 e 2050, bem como o limite de emissões globais ao longo do século.

A definição de uma meta global de emissões não implica em definir imediatamente o grau de responsabilidade de cada país para cumprir a meta. Isso deverá ser discutido nos anos seguintes, tomando-se em conta o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, prevista na convenção de mudanças climáticas.

Porque a não definição de uma meta global de reduções coloca, sobretudo, o futuro de dezenas de nações pobres, nas mãos de grandes emissores globais que, sem limites levarão o planeta a um caminho de aumento de temperatura superior 2 graus celsius.

No caso do Brasil, não criar mecanismos para garantir limites de emissões globais é colocar as nossas florestas, nossos regimes de chuvas, nossa agricultura e nossa economia sob forte risco.

Além de todas essas razões, precisamos fazer isso também como um gesto de acolhimento solidário com as necessidades de nossos irmãos dos países mais pobres. Eles em nada ou quase nada contribuíram para chegarmos a essa situação, mas certamente já são os mais prejudicados e os que mais sofrerão no futuro.

Não tenho duvidas de que estamos diante de um desafio sem precedente da história da humanidade, de um desafio civilizatório, uma espécie de esquina ética, que requer de nós escolhas certas e no tempo certo, pois delas dependem a continuidade das condições que favorecem a vida no planeta terra.

Para tanto é necessário que assumamos essa tarefa com convicção, determinação e ousadia, para não cairmos na tentação de fazer aquilo que tão acertadamente admoestou Chesterton já na primeira metade do século XX, quando disse:

“o mal de que sofremos hoje em dia é a humildade no lugar errado. A modéstia deslocou-se do órgão da ambição. A modéstia se fixou no órgão da convicção, onde nunca deveria estar”.

Por fim, quero homenagear ao povo norueguês nas figuras de dois de seus filhos ilustres, o artista plástico E. Munch e o escritor Jostein Gaarder, pessoas que foram capazes de antecipar as dores e necessidades de nosso tempo, o primeiro por ter tido a capacidade de retratar a imagem do mais doído e profundo grito da natureza, talvez o mais autêntico retrato de nosso tempo.

O segundo, pela ousadia de tornar acessível aos mortais, o que significa viver mais do que de pão, quando os convidou a entrar em seu “Mundo de Sofia”.

Talvez seja mesmo esse o maior milagre da arte, não se deixar aprisionar pelas fronteiras tempo.

Foi isso que descobri quando em 2007, aqui na Noruega tive a felicidade de visitar o Museu Nacional, onde está depositada parte da obra de Edward Munch. Fiquei tão impactada com a atualidade de “O Grito” para os nossos dias, que naquela noite só consegui dormir por volta das 2 horas da manhã, após fazer essa modesta poesia:

A Arte

Mesmo sem rima
É poética;

Mesmo sem forma
É estética;

Mesmo sem voz
É profética;

Mesmo em segredo
Revela-se.

Fala além de seu
Tempo,

Qual onda eleva-se
Aos ventos,

A inundar litorais.


Que o bem que conseguirmos espalhar em nosso tempo possa inundar de esperanças os sonhos daqueles que ainda não nasceram. Muito obrigada!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Carta da Cidadania Planetária - Documento Final do 1º FÓRUM ESPIRITUAL MUNDIAL - Dezembro de 2006




Deixaram em minha caixa de correspondências um documento com o conteúdo abaixo. Quem o deixou não se identificou, mas suspeito que seja um amigo/irmão de longa data, que sabe da minha identificação e da ligação de alguns companheiros de caminhada com o tema "Cidadania Planetária". Belo resgate de um evento marcante, ocorrido em Brasília, em dezembro de 2006, do qual não fui partícipe, mas que tenho a obrigação de fazer repercutir, para estimular a realização de outros, por outros seres generosos que acreditem nas palavras e recomendações deste documento.

Um Eco-fraterno abraço,

Nísio.

Carta da Cidadania Planetária


Em todos os continentes, espalham-se fóruns e redes de organizações sociais que buscam a Paz, a Justiça e maior comunicação entre a humanidade e a natureza. Os Fóruns Econômicos e Sociais Mundiais, grandes avanços da humanidade, representam visões importantes, mas parciais, de como deve ser o mundo. Em comunhão com todo esse processo internacional, nós, participantes do 1º Fórum Espiritual Mundial, em busca de "um novo mundo possível", reunidos em Brasília, de 6 a 10 de dezembro de 2006, em um coro de muitas vozes, afirmamos que as propostas econômicas e sociais não têm, isoladamente, como solucionar satisfatoriamente os problemas da humanidade. Urge uma perspectiva espiritual, baseada no amor universal. Espiritualidade constitui, afinal, o campo fértil de onde surge a sabedoria e a ética do amor, ampliando os significados da existência humana. É a percepção da unidade entre todas as coisas e da sacralidade que permeia o existir.
Acreditamos que a vida é regida por leis cósmicas. A água molha, o fogo queima, a chuva cai, a semente germina, o botão se transforma em flor, ao inverno segue a primavera, ao verão segue o outono, o amor constrói, traz felicidade e alegria. Cosmo, galáxias, sóis, planetas, minerais, céu, terra, nascentes, rios, oceanos, vegetais, animais, seres humanos são interdependentes e complementares. Do macrocosmo ao microcosmo a teia da vida é única. A vida é inteligente e amorosa, tudo faz parte de um equilíbrio perfeito e harmonioso.
A evolução científica, tecnológica, política e econômica constitui uma bênção para a humanidade. Mas, certamente, precisa de um ingrediente, um complemento mais significativo, mais efetivo, mais profundo, para que cada ser humano e a humanidade encontrem um estado de inteireza e felicidade. A falta de percepção da interdependência e complementaridade de toda a vida gera a visão individualista, materialista, a ilusão de separatividade. É necessária a percepção da irmandade de todos os seres viventes, de todos os reinos, de todas as raças, etnias, credos, gêneros e classes sociais. Todos pertencemos a uma mesma fonte de vida, somos todos feitos do mesmo barro. A nossa família é a humanidade e todos os seres que compõem a teia da vida, filhos e filhas da Terra.
Assim, a base fundamental para a construção de uma sociedade digna está na percepção da unidade da vida, que deve se revelar através da solidariedade efetiva, real, com atos concretos de sensibilidade, fraternidade, ética, simpatia, gentileza e cuidado. São atitudes que dependem da transformação de cada um de nós, da expressão de nossas potencialidades internas. Nenhum regime, sistema ou forma de governo, instituição política ou econômica pode, por si só, garantir uma sociedade digna. Somente com a incorporação, em nossas vidas, da solidariedade, da fraternidade, do afeto, da amorosidade, da espiritualidade e da ternura poderemos alcançar um saudável relacionamento humano e planetário. Não há ideologia superior à solidariedade.
Dentro desta perspectiva, é essencial uma nova ótica, uma nova visão filosófica que começa com o respeito e a valorização da diversidade, amplia-se na percepção da unidade da vida e se completa com uma nova atitude. Esse novo olhar – com os olhos do coração – deve mudar as nossas motivações e intenções para que sejam altruístas, promovendo uma revisão de nossos valores.
A revisão necessária deverá atingir a dimensão econômica, colocando-a a serviço da sustentabilidade e da justiça social. A revisão será necessária às instituições políticas e educacionais, que precisam repensar seus papéis na formação de uma civilização solidária que expresse suas inspirações maiores: felicidade, paz, respeito, autenticidade, harmonia e cooperação. Essa revisão deve chegar às instituições religiosas, para que se adaptem às necessidades de seu tempo, atualizando e aprofundando seus ensinamentos e gerando seres humanos maduros, mais sábios e responsáveis, capazes de amar e de trabalhar ombro a ombro com os diferentes. Nosso futuro depende de se alcançar a genuína sabedoria espiritual, pela integração das diferentes visões, sejam científicas, filosóficas, religiosas ou pela disposição de entregar-se ao profundo encontro com a energia do sagrado, seja qual for o nome que a ela se dê, já que essa força é a fonte de sabedoria profunda e do amor sem fronteiras. Não há ética verdadeira que não provenha dela.
A educação deve privilegiar os valores éticos; as ciências da saúde devem estar voltadas para uma percepção integral do ser humano; a economia e a tecnologia devem estar dirigidas prioritariamente para as necessidades humanas e planetárias; a política deve ter como base primordial a ética, o serviço público, o interesse coletivo; as religiões devem estar direcionadas para a espiritualidade, a religiosidade, a tolerância, o respeito mútuo e essencialmente para a irmandade universal; a sociedade deve formatar novos paradigmas lastreados na solidariedade e na proteção da vida. Todos os setores de atividades devem estar permeados de espiritualidade, de fé na sacralidade da vida, de atuação positiva, para o bem, para a plenitude do ser.
Em nossas efêmeras e transitórias vidas, somos os cidadãos e cidadãs do Planeta. As divisões que criamos são artificiais, um equívoco, eis que o Planeta é um só. Somos os tripulantes da Nave-Terra, somos a própria Terra, e é fundamental a união amorosa de todos, para uma viagem feliz, para a preservação da humanidade e da vida planetária, nessa saga maravilhosa da nossa Mãe-Terra girando harmoniosamente rumo ao infinito.
O mundo somos nós, seres cósmicos. Assim sendo, temos o poder de transformá-lo em um mundo melhor. A vida é regida por leis cósmicas confiáveis, o que nos permite agir com segurança para a mudança da vida planetária. Há uma perfeita e dinâmica correlação entre causa e efeito. Queiramos ou não, somos inexoravelmente responsáveis pelo mundo que temos, por ações ou omissões. Como ativistas da paz, haveremos de criar uma massa crítica que permita estabelecer novos paradigmas. Cada um de nós é um elo da corrente que une todas as criaturas. É preciso criar a consciência coletiva da responsabilidade individual, atuando para substituir o egoísmo pelo altruísmo, o individualismo pela solidariedade, o consumismo pela simplicidade, o ter pelo Ser, o materialismo pela espiritualidade.
Que cada um de nós possa assumir consigo mesmo, com o Eu interior, com a consciência, com a Humanidade e com Planeta um compromisso que tenha o seguinte conteúdo: "Consciente de que a edificação de uma sociedade justa depende da transformação individual de cada ser humano, comprometo-me a atuar - com amor, inteligência e solidariedade - empenhando o melhor de minhas capacidades e habilidades para a construção de uma sociedade livre, igualitária, fraterna, buscando proteger a vida planetária e construir uma organização social justa e digna, reconhecendo que minha família é a humanidade e que estou irmanado com todos os seres viventes”.

RECOMENDAÇÕES


O 1º FÓRUM ESPIRITUAL MUNDIAL aprova as seguintes recomendações:
a) promover a fraternidade entre todos os seres, - independentemente de reino, raça, etnia, gênero, credo, classe social -, como fundamento básico para a organização da sociedade e para a atuação política;
b) apoiar o trabalho das Nações Unidas e de outras organizações nacionais e internacionais na construção da paz mundial e na defesa dos direitos humanos;
c) fomentar a atuação harmônica e consensual para a integração política e econômica dos povos, respeitadas as culturas, as religiões, as tradições e as línguas locais;
d) fomentar a educação e o estudo comparativo de culturas, tradições religiosas, filosóficas, ciências e artes visando a maior aproximação e integração entre os seres humanos e os povos;
e) conscientizar a sociedade para a proteção da vida e a conservação do ambiente natural, em defesa da manutenção da biodiversidade, da flora e da fauna, dos rios, dos lagos e das nascentes; atuar para que aqueles que causaram ou venham a causar danos à natureza, notadamente aos mananciais hídricos, recomponham os ecossistemas;
f) empenhar-se em prol do desarmamento mundial e da eliminação das minas terrestres;
g) propor às Forças Armadas o direcionamento de seus efetivos para a execução de tarefas voltadas para o estabelecimento da justiça social e da defesa do equilíbrio ecológico planetário;
h) instituir um documento de identidade pessoal reconhecido em todo o Planeta;
i) incrementar a realização de plebiscitos como forma de valorizar a cidadania e ampliar a democracia direta e participativa;
j) propugnar pela democratização dos meios de comunicação, com o objetivo de garantir a todos a divulgação de suas idéias e pensamentos; trabalhar para que a mídia assuma o compromisso ético de estar a serviço dos valores que edifiquem e fortaleçam uma cultura de paz entre todos os seres;
l) propor a criação de uma unidade monetária, em âmbito planetário, a partir do respeito e da valorização da economia solidária e da vida das comunidades mais carentes;
m) defender uma legislação justa com a valorização do Estado de Direito;
n) criar mecanismos e sistemas que possibilitem a efetiva participação de todos na vida política, econômica, cultural e social em âmbito planetário;
o) desenvolver o respeito aos direitos individuais e coletivos e à pluralidade e à diversidade de idéias e pensamentos;
p) garantir igualdade de oportunidades a todos, sem quaisquer discriminações, com a erradicação da miséria;
q) promover o acesso de todos à educação, em especial a educação de valores;
r) promover o acesso à saúde, com adoção de vida saudável e alimentação natural;
s) instituir ações que promovam mudanças nos hábitos de consumo, de modo a substituir consumo exacerbado pelo consumo consciente, com o uso equilibrado dos recursos naturais;
t) incentivar, em âmbito mundial, a adoção de uma língua neutra - como o esperanto - como língua de comunicação e de intercâmbios cultural e comercial, com a conservação das línguas e dialetos locais, garantindo a democracia lingüística e a manutenção dos valores culturais de todos os povos;
u) recomendar a criação de empresas cujos participantes sejam, em sistema cooperativo e igualitário, seus proprietários;
v) apoiar e desenvolver atividades agrícolas que, a partir da percepção da unidade da vida, conservem o meio ambiente e a natureza, objetivando produção agrícola que garanta alimentação orgânica e ecologicamente correta;
x) congregar organizações sociais para potencializar suas forças e divulgar seus trabalhos;
z) apoiar e promover eventos culturais e espirituais ou campanhas que possam elevar os paradigmas da sociedade.
A humanidade precisa de todos nós! Cada um de nós tem o poder de mudar o mundo. E juntos nosso poder é maior!

1º FÓRUM ESPIRITUAL MUNDIAL - Brasília – dezembro 2006

Grandes redes de varejo suspendem compra de carne de áreas devastadas da Amazônia -12/06/2009


As redes de varejo Pão de Açúcar, Carrefour e Wal-Mart suspenderam a compra de carne bovina de 11 frigoríficos, entre eles alguns dos maiores do país, como Bertin e Minerva. Esses frigoríficos foram denunciados pelo Ministério Público Federal do Pará e pela Organização Não Governamental Greenpeace como comercializadores de gado criado em áreas de devastação da Amazônia. Estão ainda na lista de notificações do Ministério Público processadores de alimentos, como Sadia e Perdigão, e fabricantes de calçados, como a Vulcabras.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Lula diz que Brasil está dando lições ao mundo na área de meio ambiente - Por Paula Laboissière, da Agência Brasil


Brasília - 01/06/2009 - 10h06 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje (1º) que o Brasil, “cada vez mais, está dando lições ao mundo” em relação a medidas adotadas para preservar o meio ambiente. Em seu programa semanal Café com o Presidente, ele destacou ações de combate às queimadas e ao desmatamento.Ao comentar as comemorações da Semana Nacional do Meio Ambiente – que começa nesta segunda-feira –, Lula lembrou que nos últimos seis anos foram criados 25 milhões de hectares de áreas de conservação na Amazônia. O objetivo, segundo ele, é proteger a biodiversidade e priorizar a manutenção do ecossistema brasileiro.Outro ponto ressaltado pelo presidente foi a homologação de 10 milhões de hectares de terras indígenas no Brasil – entre elas a reserva Raposa Serra do Sol. “Além disso, estabelecemos preços mínimos para os produtos dessas reservas, garantindo o sustento de milhares de famílias e a preservação ambiental”, disse ele.

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Números sobre meio ambiente mostram que estamos no caminho certo, diz Lula


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje (1º) que o Brasil tem um histórico de preocupação com as mudanças climáticas e que os números mostram que o país está no caminho certo. “Apoiamos o Protocolo de Quioto como uma forma de contribuir para o combate”, disse, em seu programa semanal Café com o Presidente.Lula lembrou o lançamento do Plano Nacional sobre Mudança de Clima no ano passado e destacou o “comprometimento” por parte do governo em alcançar números decrescentes de desmatamento do bioma amazônico.Entre as principais metas do plano, segundo o presidente, estão a redução em 80% do índice de desmatamento na Amazônia até 2020 – o equivalente a 5 bilhões de toneladas de dióxido de carbono a menos na atmosfera. Há ainda o aumento no número de árvores plantadas, passando de 5,5 milhões de hectares para 11 milhões de hectares durante o mesmo período.“Com o aperfeiçoamento do sistema do monitoramento, a taxa anual de desmatamento vem caindo sistematicamente”, disse Lula, ao lembrar que, em 1998, 21.050 quilômetros quadrados eram monitorados contra 11.968 este ano. “Reduzimos em mais de 45% o desmatamento, coibindo a impunidade ambiental e tirando o crédito dos desmatadores.” (P.L./ABr)

(Envolverde/Agência Brasil)

Essa sociedade merece sobreviver? Por Leonardo Boff

O atual Presidente da Assembleia Geral da ONU, Miguel d’Escoto Brockmann, ex-chanceler da Nicarágua sandinista, está conferindo rosto novo à entidade. Tem criado grupos de estudo sobre os mais variados temas que interessam especialmente à humanidade sofredora como a questão da água doce, a relação entre energias alternativas e a seguridade alimentar, a questão mundial dos indígenas e outros. O grupo talvez mais significativo, envolvendo grandes nomes da economia, como o prémio Nobel Joseph Stiglitz é aquele que busca saídas coletivas para a crise econômico-financeira. Todos estão conscientes de que os G-20, por mais importantes que sejam, não conseguem representar os demais 172 países onde vivem as principais vítimas das turbulências atuais. D’Escoto pretende nos dias 1, 2 e 3 de junho do corrente ano reunir na Assembléia da ONU todos os chefes de estado dos 192 países membros para juntos buscarem caminhos sustentáveis que atendam à toda a humanidade e não apenas aos poderosos. O mais importante, entretanto, reside na atmosfera que criou de diálogo aberto, de sentido de cooperação e de renúncia a toda a violência na solução dos problemas mundiais. Sua sala de trabalho está coberta com os ícones que inspiram sua vida e sua prática: Jesus Cristo, Tolstoi, Gandhi, Sandino, Chico Mendes entre outros. Todos o chamam de Padre, pois continua padre católico, com profunda inspiração evangélica. Ele é homem de grande bondade que lhe vem de dentro e que a todos contagia. Foi sob sua influência que o Presidente da Bolívia Evo Morales pôde propor à Assembleia Geral que se votasse a resolução de instaurar o dia 22 de Abril como o Dia Internacional da Mãe Terra, o que foi aceito unanimemente. Foi honroso para mim poder expôr aos representantes dos povos os argumentos científicos, éticos e humanísticos desta concepção da Terra como Mãe. Tudo isso parece natural e óbvio e de um humanismo palmar. Entretanto – vejam a ironia – representantes de países ricos acham o comportamento do Padre muito esquisito. Apareceu há pouco tempo um artigo no Washington Post fazendo eco a esta qualidade. Dizia o articulista que Miguel d’Escoto fala de coisas estranhíssimas que nunca se ouvem na ONU tais como solidariedade, cooperação e amor. Em seus discursos saúda a todos como irmãos e irmãs (Brothers and Sisters all). Mais estranho ainda, diz o articulista, é o fato de que muitos representantes e até chefes de estado como Sarkosy estão assumindo a mesma linguagem estranha. Meu Deus, em que nível do inferno de Dante nos encontramos? Como pode uma sociedade construir-se sem solidariedade, cooperação e amor, privada do sentimento profundo expresso na Carta dos Direitos Humanos da ONU de que somos todos iguais e por isso irmãos e irmãs? Para um tipo de sociedade que optou transformar tudo em mercadoria: a Terra, a natureza, a água e a própria vida e que coloca como ideal supremo ganhar dinheiro e consumir, acima de qualquer outro valor, acima dos direitos humanos, da democracia e do respeito ao ambiente, as atitudes do Presidente da Assembleia da ONU parecem realmente estranhíssimas. Elas estão ausentes no dicionário capitalista. Devemos nos perguntar pela qualidade humana e ética deste tipo de sociedade. Ela representa simplesmente um insulto a tudo o que a humanidade pregou e tentou viver ao longo de todos os séculos. Não sem razão está em crise que mais que econômica e financeira é crise de humanidade. Ela representa o pior que está em nós, nosso lado demens. Até financeiramente ela se mostrou insustentável, exatamente no ponto que para ela é central. Esse tipo de civilização não merece ter futuro nenhum. Oxalá Gaia se apiade de nós e não exerça sua compreensível vingança. Mas se por causa de dez justos, consoante a Bíblia, Deus poupou Sodoma e Gomorra, esperamos também ser salvos pelos muitos justos que ainda florescem sobre a face da Terra.

Leonardo Boff é teólogo, autor de livros como "Do iceberg à Arca de Noé", "Saber Cuidar", dentre muitos outros.
www.leonardoboff.com.br

Cientista quer cidades claras para combater aquecimento - Por Redação - Lugar Certo - BBC Brasil

Construções brancas ajudam a reduzir o aquecimento global, como nas cidades mediterrâneas

Um cientista americano realiza uma campanha para que grandes cidades do mundo sejam "resfriadas" - ou seja, cobertas com materiais de cores claras - de forma a combater o aquecimento global.Em entrevista à BBC Brasil, Hashem Akbari, do Lawrence Berkeley National Laboratory, na California, afirmou que, se esse recurso for utilizado por habitantes das grandes cidades do planeta, o processo de aquecimento global pode ser retardado, dando tempo à humanidade na busca de soluções para diminuir as emissões de carbono. Akbari diz que o Brasil, particularmente, teria muito a ganhar se aderisse à campanha - batizada de "Cool Cities Program" (em tradução livre, Programa Cidades Frescas). "O Brasil é o país ideal para a adoção dessas medidas e espero recrutar São Paulo e Rio para aderir ao programa"."Prédios com ar condicionado cujos telhados fossem adaptados (usando materiais que reflitam a luz) poderiam economizar energia e prédios sem ar condicionado se tornariam mais confortáveis", diz o cientista. "Tudo isso foi provado a partir de simulação em computador.""Telhados e calçadas frescos tornariam cidades como Rio e São Paulo mais confortáveis de maneira geral", acrescenta. "Isso motivaria os cidadãos a caminhar mais, e as temperaturas mais baixas melhorariam a qualidade do ar urbano.""E sendo um país onde faz calor o ano todo, o Brasil poderia contribuir muito para combater o aquecimento global. Dez metros quadrados de telhados ou calçadas frescos cancelam o equivalente a emissões de uma tonelada de CO2."EstudosAkbari e mais dois colegas publicaram um artigo na revista científica Climatic Change que avalia o impacto do uso de materiais refletores de luz em telhados de prédios na redução de gastos com ar condicionado. Vários estudos do tipo têm indicado que prédios com telhados claros ficam mais frescos no verão.Isso ocorre porque a mudança na cor aumenta a reflexão da radiação solar e reduz o acúmulo de calor em áreas construídas - um fenômeno conhecido como "ilha de calor urbano" - e permite que as pessoas vivam e trabalhem dentro das construções sem ligar o ar condicionado.Em 2005, o governo da Califórnia, nos Estados Unidos, criou leis que obrigam armazéns e prédios comerciais com telhados planos a cobri-los de branco. Cidades ocupam cerca de 2,4% das terras do planeta, e por volta de metade desse território está coberta por ruas e telhados.Akbari calcula que cobrir essas superfícies de branco - ou de materiais de cores claras - aumentaria a quantidade de luz solar refletida pelo planeta em 0,03%, o que equivaleria a cancelar o aquecimento global produzido por 44 bilhões de toneladas de carbono. "Vamos supor que, com uma varinha mágica, nós resfriássemos todas as cidades do planeta (usando materiais refletores de luz)", imagina Akbari. "Isso produziria um resfriamento no planeta que seria equivalente à não emissão de 44 gigatons de CO2."Os cálculos levam em consideração um aumento nos gastos com aquecimento durante o inverno. E também uma certa perda de reflexão nos materiais com o passar do tempo. "Esse resultado faz um balanço entre a redução na temperatura e a não emissão de CO2". O cientista calcula que isso seria o equivalente a atrasar em dez anos o aumento previsto nas emissões de carbono do planeta.CríticasA proposta de Akbari é baseada em um princípio simples de Física: cores escuras absorvem a luz do Sol e a devolvem em forma de energia térmica, contribuindo para o efeito estufa.Os críticos da ideia dizem que ela não resolve o problema principal, ou seja, o aumento vertiginoso nas emissões de carbono pelos habitantes do planeta.Em entrevista à BBC Brasil, Akbari enfatiza que seu objetivo não é substituir os esforços para cortar as emissões e, sim, operar paralelamente a eles. "Essa técnica, em particular, vem sendo usada, com resultados comprovados, por países mediterrâneos há milhares de anos", afirmou. "Essa não é uma solução perfeita. O problema do aquecimento global tem de ser resolvido por medidas que levem a emissões zero de gases que causam o efeito estufa e, mais adiante, por medidas que consigam trazer parte dos gases já emitidos de volta para a Terra".Akbari diz que a ideia é oferecer ao planeta tempo para tomar fôlego enquanto outras medidas são negociadas. O cientista acrescenta que não vê um ponto fraco na ideia. Para ele, o programa beneficia a todos e não são necessárias grandes negociações para fazê-lo acontecer.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Consensos problemáticos - Por Boaventura de Sousa Santos16/03/2009


Há anos me intriga a facilidade com que nas sociedades européias e da América do Norte se criam consensos. Refiro-me a consensos dominantes, perfilados pelos principais partidos políticos e pela grande maioria dos editorialistas e comentaristas dos grandes meios de comunicação social. São tanto mais intrigantes quanto ocorrem sobretudo em sociedades onde supostamente a democracia está mais consolidada e onde, por isso, a concorrência de ideias e de ideologias se esperaria mais livre e intensa. Por exemplo, nos últimos trinta anos vigorou o consenso de que o Estado é o problema, e o mercado, a solução; que a atividade econômica é tanto mais eficiente quanto mais desregulada; que os mercados livres e globais são sempre de preferir ao protecionismo; que nacionalizar é anátema, e privatizar e liberalizar é a norma.Mais intrigante é a facilidade com que, de um momento para o outro, se muda o conteúdo do consenso e se passa do domínio de uma ideia ao de outra totalmente oposta. Nos últimos meses assistimos a uma dessas mudanças. De repente, o Estado voltou a ser a solução, e o mercado, o problema; a globalização foi posta em causa; a nacionalização de importantes unidades econômicas, de anátema passou a ser a salvação. Mais intrigante ainda é o fato de serem as mesmas pessoas e instituições a defenderem hoje o contrário do que defendiam ontem, e de aparentemente o fazerem sem a mínima consciência de contradição. Isto é tão verdade a respeito dos principais conselheiros econômicos do Presidente Obama, como a respeito do Presidente da Comissão da União Europeia ou dos atuais governantes dos países europeus. E parece ser irrelevante a suspeita de que, sendo assim, estamos perante uma mera mudança de tática, e não perante uma mudança de filosofia política e econômica, a mudança que seria necessária para enfrentar com êxito a crise.Ao longo destes anos, houve vozes dissonantes. O consenso que vigorou no Norte global esteve longe de vigorar no Sul global. Mas a dissensão ou não foi ouvida ou foi punida. É sabido, por exemplo, que desde 2001 o Fórum Social Mundial (FSM) tem feito uma crítica sistemática ao consenso dominante, na altura simbolizado pelo Fórum Econômico Mundial (FEM). A perplexidade com que lemos o último relatório do FEM e verificamos alguma convergência com o diagnóstico feito pelo FSM faz-nos pensar que, ou o FSM teve razão cedo de mais, ou o FEM tem razão tarde de mais. A verdade é que, mais uma vez, o consenso é traiçoeiro. Pode haver alguma convergência entre o FEM e o FSM quanto ao diagnóstico, mas certamente não quanto à terapêutica.Para o FEM e, portanto, para o novo consenso dominante, rapidamente instalado, é crucial que a crise seja definida como crise do neoliberalismo, e não como crise do capitalismo, ou seja, como crise de um certo tipo de capitalismo, e não como crise de um modelo de desenvolvimento social que, nos seus fundamentos, gera crises regulares, o empobrecimento da maioria das populações dele dependentes e a destruição do meio ambiente. É igualmente importante que as soluções sejam da iniciativa das elites políticas e econômicas, tenham um carácter tecno-burocrático, e não político, e sobretudo que os cidadãos sejam afastados de qualquer participação efetiva nas decisões que os afetam e se resignem a “partilhar o sacrifício” que cabe a todos, tanto aos detentores de grandes fortunas como aos desempregados ou reformados com a pensão mínima.A terapêutica proposta pelo FSM, e por tantos milhões de pessoas cuja voz continuará a não ser ouvida, impõe que a solução da crise seja política e civilizacional, e não confiada aos que, tendo produzido a crise, estão apostados em continuar a beneficiar da falsa solução que para ela propõem. O Estado deverá certamente ser parte da solução, mas só depois de profundamente democratizado e livre dos lóbis e da corrupção que hoje o controlam. Urge uma revolução cidadã que, assente numa sábia combinação entre democracia representativa e democracia participativa, permita criar mecanismos efectivos de controlo democrático, tanto da política como da economia. É necessária uma nova ordem global solidária que crie condições para uma redução sustentável das emissões de carbono até 2016, data em que, segundo os estudos da ONU, o aquecimento global, ao ritmo actual, será irreversível e se transformará numa ameaça para a espécie humana. A existência da Organização Mundial de Comércio é incompatível com essa nova ordem. É necessário que a luta pela igualdade entre países e no interior de cada país seja finalmente uma prioridade absoluta. Para isso, é necessário que o mercado volte a ser servo, já que como senhor se revelou terrível.

Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal). Publicado originalmente em http://www.cartamaior.com.br

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O mundo não pertence aos humanos, por Suzana M. Pádua


17/02/2009, 08:00 - O mundo acaba de perder um ecólogo da mais alta categoria. A linha filosófica de Arne Naess (1912 - 2009), pouco divulgada no Brasil, influenciou pensadores em toda parte e lançou um movimento conhecido como “ecologia profunda”. Norueguês de nascença, Naess sempre se mostrou inconformado com a maneira com a qual o planeta tem sido tratado e defendeu a necessidade de uma nova consciência ecológica. Campos diversos do conhecimento e de atuação precisam se preocupar com valores que transformem a visão do ser humano, de modo que a vida seja apreciada por seu valor intrínseco. Sua personalidade parece ter sido versátil. Naess ficou conhecido por se embrenhar em longas caminhadas e escaladas, nas quais exercitava mente e corpo. Foi nas altas montanhas da Noruega que desenvolveu sua apreciação às fontes da natureza que suprem as necessidades vitais humanas, percebendo a urgência destas serem valoradas para que passem a ser melhor protegidas. Mesmo nascido em família abastada, deu exemplo de simplicidade e de coerência entre sua linha de pensamento e sua forma de vida. Tornou-se critico de como os países ricos gastam recursos sem se aterem à sustentabilidade.A distinção entre “ecologia profunda” e o que ele considera “ecologia superficial” vem de uma postura na qual os indivíduos percebem sua existência como parte do mundo natural. A “superficial”, ou aquela que normalmente se emprega sem maiores definições, cuida das conseqüências como poluição, esgotamento de recursos naturais, desaparecimento de espécies, entre outros, enquanto a “profunda” mergulha nas causas. Responsabiliza a primeira visão, dominante, ao primeiro mundo, que persiste na crença de que tecnologia e crescimento econômico indiscriminado são capazes de resolver os impactos causados pelo modelo de desenvolvimento por eles escolhido. Segundo Naess, a estrutura social precisa ser reformulada radicalmente para que a relação com a natureza possa ser sustentável. Sua postura é anticlassista, pois percebe que os inventos antipoluentes acabam por acirrar as diferenças entre ricos e pobres, uma vez que se tornam disponíveis apenas para aqueles com capacidade de investir nas soluções dos problemas criados. Defende a descentralização e a autonomia local como meios de se reduzir os impactos ambientais e de se aumentar as chances de participação de mais atores sociais nos processos decisórios.Na medida em que contesta o estilo de vida da sociedade moderna, seu pensamento se torna político. Mesmo assim, a visão difundida a seu respeito foi de que Naess é, eminentemente, um naturalista. Seus críticos não perceberam sua dimensão revolucionária, ou preferiram ignorá-la, resistindo às mudanças e às responsabilidades que deveriam ser assumidas, caso fosse aceita. Outros consideram que a “ecologia profunda” não foi divulgada na proporção de sua importância por ser avançada demais para sua época. Com o agravamento das crises ambientais, essa visão tem agora maiores chances de difusão.A ecologia profunda, portanto, exige uma mudança paradigmática na sociedade industrial/capitalista, uma vez que esta é essencialmente responsável pela crise ambiental atual. A natureza pode ser a fonte dessa transformação. Naess considera a natureza a melhor metáfora para as mudanças que precisam ocorrer. A complexidade biológica, por exemplo, pode servir de inspiração para compreendermos a complexidade sócio-cultural, com seus aspectos variados, que se complementam em teias sistêmicas e interdependentes. “Nosso mundo está com problemas por causa do comportamento humano fundamentado em mitos e costumes que estão causando a destruição da natureza e provocando as mudanças climáticas. Podemos agora deduzir a mais simples teoria cientifica da realidade: a estrutura ondulada da matéria no Espaço. Ao compreendermos como nós e tudo o que nos cerca está interconectado com o Espaço, podemos deduzir soluções para os problemas fundamentais do conhecimento humano em Física, Filosofia, Metafísica, Teologia, Educação, Saúde, Evolução e Ecologia, Política e Sociedade. Esta é a profunda nova maneira de pensar que Albert Einstein descreveu, que existimos como estruturas espaciais estendidas do universo. Uma mera ilusão de sermos corpos separados. Isto apenas confirma as intuições de antigos filósofos e místicos.” *A solidariedade com toda a vida, para Naess, parte de uma intuição e não de uma teoria filosófica. Todas as espécies têm o mesmo direito à vida e a se desenvolverem em sua plenitude. Esse princípio se contrasta com o que está ocorrendo, pois a humanidade tem relação direta com a matança e a destruição de outros organismos, ecossistemas, montanhas, rios e a Terra em si.O posicionamento de Arne Naess é antiantropocêntrico. Oferece uma oportunidade à sociedade de perceber sua responsabilidade pela destruição de todos os elementos da natureza. Sua proposta pressupõe respeito à vida em geral e uma relação espiritual com a Terra.Os princípios básicos da ecologia profunda são:

O bem-estar e o potencial de desabrochar do ser humano e da vida não-humana tem valor em si mesmo (valor intrínseco ou valor inerente). Esses valores independem do uso do mundo não-humano pela humanidade;

A riqueza e a diversidade da vida contribuem para a realização desses valores, além de representarem valores por si só;

Os seres humanos não têm o direito de reduzir a riqueza e a diversidade do planeta, exceto para suprir suas necessidades vitais;

O desabrochar da vida humana e das culturas têm relação direta com um decréscimo substancial da população humana. O desabrochar de outras formas de vida depende desse decréscimo;

Na atualidade, a interferência humana nas demais formas de vida ocorre em demasia, e esta situação tem piorado rapidamente;

As políticas precisam ser mudadas de acordo com essas necessidades, pois influenciam a economia, a tecnologia e estruturas ideológicas. O resultado precisa ser profundamente diferente daquele de agora;

A mudança ideológica é, em essência, apreciar a qualidade da vida (priorizando situações com valores inerentes), ao invés de incentivar o anseio de se aumentar o nível de vida;

Aqueles que se identificam com esses pontos de vista têm a obrigação direta ou indireta de tentar implementar as mudanças necessárias.Em essência, a ecologia profunda formula perguntas profundas. O adjetivo (profundo) estressa o porquê e o como, enquanto a maioria não se atém a questionamentos dessa natureza. A ecologia, como ciência, não investiga qual a sociedade ideal para se manter um ecossistema, por exemplo. Esse seria um campo da política, da filosofia ou da ética. Enquanto os ecologistas mantiverem visões estreitas, Naess acredita que não formularão perguntas essenciais à manutenção da vida na Terra. O que defende é uma ampliação significativa de visão no que chama de “ecosofia”. Sofia vem do grego e refere-se à sabedoria presente na ética, nas normas, nas regras e nas práticas. Ecosofia ou ecologia profunda representa um salto da ciência à sabedoria. É este o passo que Naess almejava. Infelizmente, este visionário morreu em janeiro de 2009, com mais de 90 anos, mas podia ter durado muito mais.
Faz parte daqueles poucos que podiam ficar eternamente entre nós. Que suas idéias permaneçam...
Publicado originalmente em http://www.oeco.com.br