terça-feira, 19 de março de 2013

Filtro de barro brasileiro é o mais eficiente do mundo

Filtro de barro brasileiro é o mais eficiente do mundo

O sistema lento de gotejamento colabora para que micro-organismos não passem pelo filtro - Foto: Reprodução
O sistema lento de gotejamento colabora para que micro-organismos não passem pelo filtro - Foto: Reprodução
 
18/03/2013 - Augusto Pires, Fonte: Redação Dispersa

Nós, brasileiros, temos provavelmente o melhor sistema de filtragem de água nas mãos, há muito tempo, e nem mesmo sabíamos disso. Pesquisas norte-americanas apontaram que os filtros tradicionais de barro com câmara de filtragem de cerâmica são muito eficientes na retenção de cloro, pesticidas, ferro, alumínio, chumbo (95% de retenção) e ainda retém 99% de Criptosporidiose, um parasita causador de doenças. 

Essas conclusões são baseadas nas pesquisas demonstradas no livro The Drinks Water Book, de Colin Ingram, ótima referência para pesquisas sobre sistemas de filtragem de água. 

As pesquisas revelam que sistemas mais eficientes são baseados na filtragem por gravidade, onde a água lentamente passa pelo filtro e goteja num reservatório inferior, justamente como são os filtros de barro no Brasil. Esse sistema mais 'calmo' de filtrar a água garante que micro-organismos e sedimentos não passem pelo filtro devido a uma grande pressão exercida pelo fluxo de água. 

Essas conclusões levam a crer que quando um filtro de água sofre uma pressão devido ao fluxo da água da torneira ou da tubulação, o processo fica prejudicado, pois a pressão sobre o conjunto faz com que micro-organismos, sedimentos ou mesmo elementos químicos como ferro e chumbo passem pelo sistema chegando ao copo do consumidor. 

Por fim a pesquisa revela também que muitas das tecnologias que são lançadas no mercado não têm muita utilidade, pois, em geral não impedem que elementos perigosos como o flúor ou arsênio passem pelo processo de filtragem, assim sendo suficiente a compra de um filtro simples de gotejamento e cerâmica. 

Assim é sempre bom ficarmos atentos na compra de produtos que são importantes à saúde e sempre analisarmos bem o produto de acordo com a sua real necessidade.

Fonte: MetaEfficient

segunda-feira, 18 de março de 2013

 

Sagarana: o que será? 

                                              Por Nísio Miranda




Sagarana não é uma lenda. Muito menos, unicamente, um livro de contos do genial Guimarães Rosa.

Entre um extremo e outro – da mística da palavra; do sertão iniciático e da travessia cotidiana e abrupta, não-dimensionável, íntimo e infinito em cada ser individualizado e múltiplo, à materialização, em prosa irrepreensível do mago tradutor do sertão - a utopia refloresce, insurgindo-se contra a dureza dos dias urbanos, contra a irresignada insatisfação humana traduzida em consumo, em individualismo, em alheamento, em alienação, em estagnação dos sentimentos, em previsível morte multi-aspectual.
Sagarana é, assim, intraduzível. Inobstante isso, localizável – pelo menos geograficamente. Distrito de Arinos, Noroeste das Gerais (como se o sertão não só se permitisse mensurar espiritualmente).
O que não raramente se conclui é que Sagarana tem que ser vivida. Vivenciada. Experimentada e sorvida como algo com que nunca nos deliciamos, seja pela raridade e escassez, seja pela inacessibilidade a que os segredos e os rituais submetem os objetos de desejo, profanos ou sagrados, ao homem que, ao viajar, não se atém à paisagem, não se fluidifica em intersecção com as almas passantes, impregnadas de chão, de inimagináveis venturas e desventuras, transformadas em faces enrugadas e olhos sábios, sorrisos tímidos, mas radiantes de sentimento e esperança.
Sagarana está ali: entre um tanto e outro de sertão banhado pelo contemplativo Urucuia, como um óvulo à espera da fecundação, como animal hibernante na expectativa de outra primavera, como um botão prestes a romper em enigmática flor.
Eis que, ao caminhar, avista-se no horizonte a utopia que, no dizer do poeta, afasta-se a cada passo dado, compelindo-nos à frente. A utopia que provoca os visionários, remetendo-os da intenção ao gesto, da inércia da reflexão ao ato profícuo da recriaçãodo mundo. Pois que “o sertão é o mundo”.

E dali, de modo profético, surgirá, tanto mais o tempo se adiante, para além de vãs promessas – meras indutoras de esperanças, multiplicadoras de sonhos – uma verdadeira incubadora do que de mais carece a nossa gente, do que mais merece a nossa terra, na parceria salutar de gestores públicos, ativistas sociais, culturais, ambientais e lideranças populares, em busca de soluções simples, mas ricas em mobilização social, em reconstrução da cidadania, em desenvolvimento sustentável.
Na generosa acolhida da gente que ali vive, os que ali se encontram, anualmente, constroem os pilares de uma colmeia tecnológica, com uma visão humanista e universalista, que terá operários e operárias em número e qualidade suficientes para polinizar a trajetória da viçosa e fértil Sagarana: feito Rosa para o Sertão.



Belíssimo pôr-do-sol em Congonhas, Minas Gerais, no dia 13/03/2013. À esquerda, o Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, que abriga as obras do gênio do Barroco, Antônio Francisco Lisboa: os doze profetas em pedra sabão, adornando o adro do templo, além de pórticos e altares; e as imagens em madeira, que ilustram os Passos da Paixão de Cristo, nas capelas do passos, ao longo do jardim em frente. Foto do amigo André Candreva.

segunda-feira, 4 de março de 2013

A hora de repensar os reservatórios de hidrelétricas

Por Luís Nassif

Vamos retomar a questão dos reservatórios em usinas.
Antes de Belo Monte, houve abusos extremos contra o meio ambiente, na usina de Balbina. Imensos lagos inundaram enormes áreas de mata.

Foto: Thaysa Meirelles/Flickr Foto: Thaysa Meirelles/Flickr
Houve a grita dos movimentos ambientalistas, uma ação mais firme do Ministério Público Federal, maior rigor do IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente), da Funai (Fundação Nacional do Índio).

A partir daí, no entanto, o pêndulo virou de forma perigosa.
Decisões de política pública não são neutras nem indolores. São escolhas. Como tal, cabe à política pública buscar o ótimo, a compatibilização ideal entre as várias prioridades.
***
No caso dos reservatórios de hidrelétricas, há duas prioridades: mitigação dos efeitos ambientais e segurança energética. Se se conferir 100% de prioridade a um lado, mata-se o outro.

Por segurança energética entenda-se um volume de água armazenada que garanta alguns meses de consumo. Como o consumo aumenta todo dia, o mesmo tem que ocorrer com os reservatórios. Dos reservatórios depende o próprio  crescimento das energias alternativas  sustentáveis.

Por exemplo, não se pode apostar na energia eólica se não houver reservas para compensar períodos de menor vento.

***

Certamente não se pretende voltar à devastação dos projetos anteriores. Mas não se pode tratar a questão ambiental e indígena como intocável. Nem definir uma regra geral para todo projeto, sem atentar para as características de cada um. Não tem lógica. Hoje em dia, há um bom potencial energético de futuras usinas com lagos de tamanho médio, com boa possibilidade de mitigação de eventuais transtornos ambientais ou para populações da área.
Se determinada obra poderá afetar a vida econômica de uma centena de pessoas, por exemplo, há alternativas imensamente mais baratas de resolver a questão, do que interromper a obra ou comprometer sua eficácia energética. Por exemplo, providenciar uma renda vitalícia às famílias afetadas, que seja mais do que ganham atualmente. Ou providenciar sua mudança para outra região, similar.

Órgãos ambientais poderão se condoer do fato das famílias trocarem o dia a dia da pesca por uma renda mensal vitalícia. Mas será que, consultadas, elas recusariam essa troca? Na outra ponta estão 190 milhões de brasileiros que necessitam da energia como fator não apenas de segurança como de promoção social. Não se trata de ganha-ganha mas de um ganha-perde.

E não se trata de tirar os direitos dos indígenas ou habitantes da selva, mas de negociar compensações e propor mudanças defensáveis, negociadas e, sob supervisão de todas as ONGs ambientais.
***
Desde os anos 70 tem-se essa questão indígena em jogo. É possível permanentemente manter índios e ribeirinhos com seu status histórico? Ora, seria possível remanejamentos negociados dentro da própria selva. Além disso, reservatórios são locais que, se bem aproveitados, podem se constituir em fontes de receita para pesca, turismo. Enfim, há um conjunto de saídas legítimas, negociadas, que dependem apenas do bom senso das partes envolvidas.

Revista Carta Capital - http://www.cartacapital.com.br/economia/a-hora-de-repensar-os-reservatorios-de-hidreletricas/

domingo, 3 de março de 2013

ECOCIDADANIA ATIVA: Esta vaga não é sua. Nem por 1 minuto...

http://estavaganaoesua.wordpress.com/

Esta vaga não é sua. Nem por 1 minuto...

http://estavaganaoesua.wordpress.com/

MORTE MECÂNICO-TEMPORAL

                                                                                                                         Nísio Miranda

Um homem,
 uma máquina,
 o tempo.
Contra o tempo corre o homem
em sua montaria blindada
com suas patas de borracha
em mínimo
atrito com
o chão.
 No tapete

de cimento
atira o 
contentamento
põe no voar a esperança
e no correr o coração.
Uma máquina, o tempo
(pós - contratempo).
Vem a ferrugem, consome a lata e
o tanto de porcas e de parafusos
até transformar em
monte de entulho,
em ferro-velho.
o TEMPO...




                                                                      

A EROSÃO DAS FONTES DE SENTIDO, POR LEONARDO BOFF (*)

25/02/2013
Já foi dito, com verdade, que o  ser humano é devorado por duas fomes: de pão e de espiritualidade. A fome de pão é saciável. A fome de espiritualidade, no entanto, é insaciável. É feita de valores intangíveis e não materiais como a comunhão, a solidariedade, o amor, a compaixão, a abertura a tudo o que é digno e sagrado, o diálogo e a prece ao Criador.
Esses valores, secretamente ansiados pelos seres  humanos, não conhecem limites em seu crescimento. Há um apelo  infinito que lateja dentro de nós. Somente um infinito real pode nos fazer repousar. A excessiva centralização na acumulação e no desfrute de bens materiais acaba por produzir grande vazio e decepção. Foi o que concluiram analistas da universidade Lausane. Algo em nós grita por algo maior e mais humanizador.
É nesta dimensão que se coloca a questão do  sentido da vida. É uma necessidade humana encontrar um sentido coerente. O vazio e o absurdo produzem angústia e  sentimento de estar só e desenraizado. Ora,  a sociedade industrialista e consumista, montada sobre a razão funcional, colocou no centro o indivíduo e seus interesses particulares. Com isso, fragmentou a realidade, dissolveu qualquer cânon social, carnavalizou as coisas mais sagradas e ironizou ancestrais convições, chamadas de “grandes narrativas”, consideradas metafísicas essencialistas, próprias de sociedades   de outro tempo. Agora funciona o “anything goes”, o vale tudo dos vários tipos de racionalidade, de posturas e de leituras da realidade.  Criou-se o relativismo que afirma que nada conta definitivamente.
A isso se chamou de pós-modernidade que para mim representa a fase mais avançada e decadente da burguesia rica mundial. Não satisfeita de destruir o presente, quer destruir também o futuro. Ela se caracteriza por um completo descompromisso de transformação e de um professado desinteresse por uma humanidade melhor. Tal postura se traduz por uma ausência declarada de solidariedade para com o destino trágico de milhões que lutam por terem uma vida minimamente digna, de poderem morar melhor do que os animais, de terem acesso aos bens culturais que lhes enriqueçam a visão do mundo. Nenhuma cultura sobrevive sem uma narrativa coletiva que confira dignidade, coesão, ânimo e sentido à caminhada coletiva de um povo. A pós-modernidade nega irracionalmente esta dado originário.
No entanto, por todas as partes do mundo, as pessoas  estão elaborando significados para suas vidas e padecimentos, buscando  estrelas-guias que lhes dêem   um norte e lhes abram um porvir esperançador. Podemos viver sem fé, mas não sem esperança. Sem ela se esta está a um passo da violência, da banalização da morte e, no limite, do suicídio.
Ora as instâncias que historicamente representavam a construção permanente do sentido, entraram modernamente em erosão. Ninguém, nem o Papa, nem Sua Santidade o Dalai Lama podem dizer seguramente o que é bom ou mau para esta quadra planetária da história humana.
As filosofias e outros caminhos espirituais respondiam por esta demanda fundamental do humano. Mas elas, em grande parte, se fossilizaram e perderam o impulso criador. Sofisticam-se cada vez mais sobre o já conhecido, sempre de novo repensado e redito mas desfibradas de coragem para projetar novas visões, sonhos promissores e utopias mobilizadoras. Vivemos um “mal-estar da civilização”, semelhante àquele do ocaso do império romano, descrito por Santo Agostinho em “A Cidade de Deus”.  Nossos  “deuses”  como os deles já não são mais críveis. Os novos “deuses” que estão despontando não são vigorosos o bastante para serem reconhecidos, venerados e lentamente ganharem os altares.
Estas crises só são superadas quando se fizer uma nova experiência do Ser essencial de onde se deriva uma espiritualidade viva. Vejamos alguns lugares onde os “novos deuses” se anunciam  e uma nova percepção do Ser aparece.
Por mais críticas que lhe devemos fazer no seu aspecto econômico e político, a globalização é, antes de tudo, um fenômeno antropológico que se expressaria melhor por planetização: a humanidade se descobre uma espécie, habitando uma única Casa Comum, o planeta Terra, com um destino comum. Tal fenômeno vai exigir uma governança global para gestionar os problemas coletivos. É algo novo.
Os Fórums Sociais Mundiais que a partir do ano 2000 começaram a se realizar a partir de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, revelam uma particularíssima irrupção de sentido. Pela primeira vez na história moderna, os pobres do mundo inteiro, fazendo contraponto às reuniões dos super-ricos na cidade suiça de Davos, conseguiram acumular tanta força e capacidade de articulação que acabaram aos milhares se encontrando primeiro em Porto Alegre, depois em outras cidades do mundo, para apresentar suas experiência de resistência e de libertação, para trocar experiências de como  criam microalternativas ao  sistema de dominação imperante, como alimentam um sonho coletivo para gritar:um outro mundo é possível, um outro mundo é necessário. É algo novo.
Nas várias edições dos Fóruns Sociais Mundiais, em níveis regional e internacional, se notam os brotos do novo paradigma de humanidade, capaz de organizar de forma diferente a produção, o consumo, a preservação da natureza e a inclusão de toda a humanidade num projeto coletivo que garanta um futuro de vida e de esperança para todos. Dai a sua importância: do fundo do desamparo humano está emergindo uma fumaça que remete a um fogo interior do lixo ao qual foram condenadas as grandes maiorias da humandiade. Esse fogo é inapagável. Ele se transformará numa brasa e num clarão a iluminar um novo sentido para humanidade. Oxalá.
*Leonardo Boff teólogo e filósofo é autor de Tempo de transcendência, Vozes 2010.
Extraído de www.leonardoboff.com