terça-feira, 1 de abril de 2014

                                                            

"Quem tem boca vaia Roma"

                                                Por Vinicius Resende Sousa (*)

Os ditados populares são também uma forma de sabedoria popular. Passados de geração em geração, podem ser alterados pela oralidade, como no caso deste acima.

Mas porque vaiar Roma? Pelos costumes, pela República, pela perseguição aos cristãos, pelo militarismo - característica marcante daquela civilização? Talvez sim.

Neste dia em que o Golpe de 64 completa 50 anos podemos relaciona-lo com Roma. Assim, "quem tem boca vaia a Ditadura Militar".

Infelizmente, hoje lamentamos os desaparecidos nos instrumentos de tortura, as vítimas do regime, a não concretização das reformas de base, o cerceamento das liberdades, o desrespeito aos Direitos Humanos. Tempos sombrios que já se passaram, entretanto deixaram marcas profundas na sociedade brasileira.

Tudo isso em nome de livrar o país do comunismo. E pergunto: o governo João Goulart era comunista? Não. Assim, fica mais difícil entender os motivos da chamada "revolução" de 64. E se fosse comunista? João Goulart fora eleito pelo povo, chegara ao governo constitucionalmente.

A noite de 21 anos arrasou a economia, disparou a inflação, dificultou a vida dos trabalhadores, promoveu tortura e morte em nome de faxinar o estado brasileiro. Limpar os chamados comunistas, que nada mais eram que pessoas de bem reivindicando seus interesses - característica comum da Democracia - que, aliás, os "revolucionários" mostraram desconhecer e desrespeitar.

E lá foram os militares com seu ímpeto de ajudar o país, no entanto nada mais fizeram que badernar a economia, disparar a inflação, endividar o Brasil. Soma-se também à inconstitucionalidade do golpe, o fato da Presidência da República ter sido declarada vaga, quando o então presidente ainda se encontrava em solo brasileiro. Em entrevista recente a Globo News, Pedro Simon - um dos poucos senadores que ainda se pode respeitar nesse país - disse que o outrora vilão João Goulart foi também um herói. Num momento de tensão, ele preferiu não resistir para que não houvesse derramamento de sangue. Entregou a Presidência da República para evitar que brasileiros fossem mortos por brasileiros.

Ainda, temos que nos lembrar dos exilados. Expulsos da pátria, impedidos de viver com a família, angustiados com a situação vivida no Brasil.

Àqueles que lutaram contra o vergonhoso regime, nossos eternos agradecimentos. Resistiram bravamente, seja na luta armada, no silêncio perante a tortura ou na luta com as palavras. A democracia brasileira agradece a cada um de vocês.

Antes de por fim ao texto, gostaria de grafar uma das canções, dentre inúmeras, que cabem ao momento: "Liberdade, Liberdade/ Abra as asas sobre nós/ E que a voz da igualdade/ Seja sempre a nossa voz". Salve a Democracia e a Liberdade! Ditadura nunca mais, chega de AI-5.

"Quem tem boca vaia Roma"

"Pai, afasta de mim esse cálice (CALE-SE) de vinho tinto de sangue."


(*) Vinicius Resende Sousa, 18, é natural de Coronel Xavier Chaves, MG e estudante de Direito na Universidade Fedral de Lavras - UFLA - viniciussousa48@hotmail.com