terça-feira, 28 de outubro de 2014

À Guisa de um Guia para o "Caminho do Sertão: de Sagarana ao Grande Sertão: Veredas"

                                                                                     Nísio Miranda

       (Por todos os caminhos, caminhadas e caminhantes em que podemos crer)


Caminheiro, ao caminhares,
além do que vês – caminho –
encontrarás, no sertão,
o teu ninho e o teu
voar.
Da imensidão - resoluto -
do sertão, a contemplar,
a intrigante questão
“de onde viemos, que somos?”
de tua alma assuntará:
- Em qual caminho,
em qual vereda,
minha travessia se dará?
Quanto vale o que carrego,
quanto tenho a partilhar?
Quando encontrarei sossego,
quando angústia e esperança,
sussurros de além-mundo,
diálogo ou um profundo
silêncio a me perscrutar?
Na tua roseana jornada,
de uma obra a outra,
a estrada te dará,
do lume, o excerto,
de transcenderes
o simples "de onde partir
ou chegar".


Nada é óbvio ou banal.
Da paisagem retorcida em
caules de árida vida,
por ti, só, perceberás
que ali é que aflora a essência
da fortaleza e da paciência
do sertanejo e dos rios.
Tua sombra, poeira e sol,
pavimentando a estrada,
a provocar-te a querença
para a escuta generosa
de tudo o que sabe a utopia
na profusão do arrebol,
te farão forte, o bastante,
pra promover um levante
e resgatar o sertão
(o infinito sertão de Rosa)
que dentro de ti se encerra.
Saberás, ao fim dos passos
que não há mais fortes laços
dos que se constroem
na sanha
de resistir e amar;
de ser herói e bandido,
sendo palhaço ou mendigo,
um andarilho ou doutor,
cultuando as nobres artes,
saber línguas e verdades,
mas benzer-se na humildade
dos que laboram a esperança.
Vislumbrar o próprio umbigo,
mas também a aliança
que faz de nós um só corpo
no uno e na alteridade,
no todo ou no singular.


Saberás, ao fim de tudo
- caminhante embevecido
pela ascensão do andar -
que o sertão faz-se mundo
e está aqui e acolá,
ou bem dentro de nós
oriundo
do que, de Deus, em nós, há.
Teus caminhos, passos meus,
de braços dados com a história
- como um Quixote sem glória,
dúbio, descrente, a vagar –
revelarão a maior
das forças que (em vão?)
nos movem agora
e um sábio já versejara:
"Caminheiro, não há caminho.
O caminho se faz ao caminhar..."