quinta-feira, 24 de julho de 2008

É possível ser feliz num mundo infeliz? - Por Leonardo Boff *


Adital – Brasil – 21/07/2008 - Não podemos calar a pergunta: como ser feliz num mundo infeliz? Mais da metade da população mundial é sofredora, vivendo abaixo do nível da pobreza. Há terremotos, tsunamis, furacões, inundações e secas.

No Brasil apenas 5 mil famílias detém 46% da riqueza nacional. No mundo 1125 bilionários individuais possuem riqueza igual ou superior à riqueza do conjunto de paises onde vivem 59% da humanidade. O aquecimento global evocou o fantasma de graves ameaças à estabilidade do planeta e ao futuro da humanidade. Diante deste quadro, é possível ser feliz? Só podemos ser felizes junto com outros.

Importa reconhecer que estas contradições não invalidam a busca da felicidade. Ela é permanente embora pouco encontrada. Isso nos obriga a fazer um discurso critico e não ingênuo sobre as chances de felicidade possível.

Na reflexão anterior sobre o mesmo tema, enfatizamos o fato de que a felicidade sustentável é somente aquela que nasce do caráter relacional do ser humano. Em seguida, é aquela que aprende a buscar a justa medida nas contradições da condição humana. Feliz é quem consegue acolher a vida assim como ela é, escrevendo certo por linhas tortas. Aprofundando a questão, cabe agora refletir sobre o que significa ser feliz e estar feliz. Foi Pedro Demo, a meu ver, uma das cabeças mais bem arrumadas da inteligência brasileira, que entre nós melhor estudou a "Dialética da Felicidade" (3 tomos, 2001). Ele distingue dois tempos da felicidade e nisso o acompanhamos: o tempo vertical e o tempo horizontal. O vertical é o momento intenso, extático e profundamente realizador: o primeiro encontro amoroso, ter passado num concurso difícil, o nascimento do primeiro filho. A pessoa está feliz. É um momento que incide, muito realizador, mas passageiro.

E há o momento horizontal: é o que se estende no dia a dia, como a rotina com suas limitações. Manejar sabiamente os limites, saber negociar com as contradições, tirar o melhor de cada situação: isso faz a pessoa ser feliz.

Talvez o casamento nos sirva de ilustração. Tudo começa com o enamoramento, a paixão e a idealização do amor eterno, o que leva a querer viver junto. É a experiência de estar feliz. Mas, com o passar do tempo, o amor intenso dá lugar à rotina e à reprodução de um mesmo tipo de relações com seu desgaste natural. Diante desta situação, normal numa relação a dois, deve-se aprender a dialogar, a tolerar, a renunciar e a cultivar a ternura sem a qual o amor se extenua até virar indiferença. É aqui que a pessoa pode ser feliz ou infeliz.
Para ser feliz na extensão temporal, precisa de invenção e de sabedoria prática. Invenção é a capacidade de romper a rotina: visitar um amigo, ir ao teatro, inventar um programa. Sabedoria prática é saber desproblematizar as questões, acolher os limites com leveza, saber rimar dor com amor. Se não fizer isso, vai ser infeliz pela vida afora.

Estar feliz é um momento. Ser feliz é a um estado prolongado. Este se prolonga porque sempre é recriado e alimentado. Alguém pode estar feliz sendo infeliz. Quer dizer, tem um momento intenso de felicidade (momento) como o reencontro com um irmão que escapou da morte. Como pode ser feliz (estado) sem estar feliz (momento), quer dizer, sem que algo lhe aconteça de arrebatador.

A felicidade participa de nossa incompletude. Nunca é plena e completa. Faço minha a brilhante metáfora de Pedro Demo: "a felicidade participa da lógica da flor: não há como separar sua beleza, de sua fragilidade e de seu fenecimento".

Teólogo, escritor e professor
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terça-feira, 24 de junho de 2008

João Guimarães Rosa: 27/06/2008 - Centenário de Nascimento







"Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens."

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Morrer depois... Mário Quintana, para uma rápida catarse:


Sentir primeiro, pensar depois


Perdoar primeiro, julgar depois


Amar primeiro, educar depois

Esquecer primeiro, aprender depois

Libertar primeiro, ensinar depois

Alimentar primeiro, cantar depois

Possuir primeiro, contemplar depois

Agir primeiro, julgar depois

Navegar primeiro, aportar depois

Viver primeiro, morrer depois


Da difícil arte de se manter uma página atualizada - Por Nísio Miranda

Prezados (as) leitores (as),
Saúde e Paz!


Estou acometido de profunda frustração, que devem experimentar muitos daqueles que se aventuram na experiência da edição e publicação de um blog, neste vastíssimo mundo da rede mundial de computadores, na tentativa de (e na plena convicção de que conseguirá) cibernetizar as informações que detém, pretendendo contribuir para a construção de um mundo melhor, fraterno, justo, solidário e, conseqüentemente, sustentável, no sentido mais especial do termo para a Humanidade.
O mundo e suas múltiplas e hipersônicas transformações nos atropelam a todo instante, nossos afazeres profissionais nos limitam, nosso pouco tempo para o afeto familiar e amistoso nos cobra mais, nosso raciocínio e capacidade de processamento combalidos pelo milhão e meio de informações por minuto nos impele a atabalhoar o inadiável e esquecer ou desprezar o que não é tão urgente. E nossos blogues sofrem à deriva, por esta última atitude.
Entretanto, não pretendo parar. Seria ainda mais frustrante... Continuarei a postar os textos dos que admiramos e as idéias positivas e proativas que garimpamos aqui e acolá nas escrituras alheias. E por cá continuarão a desfilar impagáveis pepitas textuais - de um engajamento encorajador - gestadas por grandes homens e mulheres como Leonardo Boff, Maturana, Gilney Viana, Marina Silva, Henrique Cortez, Nilton Bonder, Almir Paraca, Pedro Casaldáliga, Frei Betto, Rubem Alves, e tantos outros que estarão, às vezes sem saber, construindo este espaço comigo e por mim, para que possamos cumprir nosso objetivo, inscrito na abertura da página.
De vez em quando, me manifestarei pessoalmente, sempre que o inexorável tempo voltar-se um pouco para mim, permitindo-me fazê-lo, certamente em detrimento de algumas outras atividades que necessariamente adiarei, sine die, para poder me dar esse inestimável prazer. 
Assim, hoje, trago em estréia no nosso espaço, um dos homens mais inteligentes de que tenho tido oportunidade de ler: Dr. Luiz Eduardo Cheida.
Médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.
Um seu texto que muito me impressionou, entre muitos outros que certamente, em breve, figurarão por aqui é o que segue.

Espero que gostem. Desculpando-me pela minha incapacidade blogueira e pelo desabafo por ela,
com um Ecofraterno abraço.

TOQUE DE RECOLHER - Por Luiz Eduardo Cheida


A velocidade é a nova pandemia que faz adoecer os humanos do século XXI.

Infectados pelos males da rapidez, também fazemos adoecer, no mundo natural, tudo aquilo que conseguimos tocar.

A sociedade do fast-food, em nome da rapidez, determina que o amadurecimento daquilo que nos alimenta seja mais curto. Encurtar o ciclo das frutas, abreviar o amadurecimento dos legumes, diminuir o tempo de vida dos animais que nos dão a carne, fenecer com avidez as verduras. Mexemos com a vida ao sabor de nosso apetite.

A sociedade de mercado determina que a produção de cereais seja maior. Há um campeonato a ser jogado, e no afã de chegar em primeiro, ganha aquele que aumentar mais a produção. Mas, nesse esporte o dopping é permitido.

Aceitam-se compostos químicos que, com suas moléculas high-tech, arrasam outras formas de vida. Para ter rapidez, eliminam-se competidores e predadores. Turbinar o concorrente com venenos, aqui, não é imoral, inda que isso custe o equilíbrio do local. Até porque, se duplicamos a safra, tudo se justifica. Afinal, o equilíbrio pretendido não é o ambiental e sim o da balança comercial.

Mexemos com a vida ao sabor de nossa ganância.

E assim, a vida gira, gira, gira. E o tempo passa, passa, passa. E a luz está acesa para que a galinha bote sem descanso. E os campos, revolvidos, produzindo o tempo todo. E a máquina, azeitada, repetindo movimentos por toda a eternidade...

Contrariamente ao frenesi humano, o resto da natureza segue seu curso. A uma estação sucede-se outra. De velocidade diferente.

O outono, que sucedeu o verão, já chegou. É a estação das grandes colheitas; dos dias e noites de mesma duração; é, como dizem, quando a seiva das plantas começa caminhar para a raiz, para o seu recolhimento.

O ciclo da vida comporta descanso. Nada na natureza é artificialmente contínuo como o homem dá a entender. A um período mais ativo, segue-se um período de descanso. A natureza descansa. As pessoas também deveriam se acalmar. Como a natureza, deveriam retirar a pressa.
Ao outono, sucede o inverno.

- É frio, hein padrinho?

Pois então, como a seiva, recolha-se. Ou sente-se e leia. Ou durma mais cedo. Recarregue-se... Assim, quando chegar a primavera, você volta para o sol e floresce de novo!

Não é bom correr tanto. Quem vive tudo agora, tem que antecipar o futuro. Gastando o futuro agora, fica-se sem ele para depois. Sem futuro para ir, nada mais fará sentido.

Para esta sociedade estressada, é preciso um toque de recolher.

De minha parte, na flor de meus 53 anos, assim expresso meu propósito:


Outonou meu
Verão
Os que viverem
Verão
Outro tom
Outro eu.

Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Agir rápido, agir juntos - Por Leonardo Boff *

Adital - Brasil - 02/05/2008 - Finalmente, também as Igrejas estão se mobilizando para enfrentar as mudanças climáticas da Terra. O secretário geral da ONU Ban Ki Moon visitou em março o Conselho Mundial das Igrejas em Genebra e disse: "um problema global exige uma reposta global: nós precisamos da ajuda das Igrejas". E elas responderam prontamente com uma conclamação aos milhões de cristãos dispersos pelo mundo afora com estas palavras: "agir rápido, agir juntos porque não temos tempo a perder". Citaram a Bíblia para enfatizar que Deus nos entregou a Terra como herança para administrar e não para dominar, pois esta palavra bíblica "dominar" significa cuidar e gerenciar. Acolheram os dois imperativos propostos pelo Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC): a mitigação e a adaptação. A mitigação quer identificar as causas produtoras do aquecimento global que é o nosso estilo dilapidador de produção e consumo ilimitado e individualista. A adaptação considera os efeitos perversos, especialmente nos países mais vulneráveis do Sul do mundo que demandam solidariedade, pois se não conseguirem se adaptar, assistiremos estarrecidos, a grandes dizimações.

As Igrejas assumem uma função pedagógica: ao evangelizarem, devem propor o ideal de uma sobriedade voluntária e de uma austeridade jovial e ensinar o respeito a todos os seres, pois todos saíram do coração de Deus. Sendo dons do Criador, devem ser condivididos solidariamente entre todos a começar pelos que mais precisam.

A Igreja Católica oficialmente ainda não propôs nada de relevante. Mas a Conferência dos Bispos do Brasil em suas Campanhas da Fraternidade sobre a água e sobre a Amazônia ajudou a despertar uma consciência ecológica. Os bispos canadenses publicarem recentemente uma bela carta pastoral com o título: "a necessidade de uma conversão". Atribuem à conversão um significado que transcende seu sentido estritamente religioso. Ele implica "encontrar o sentido do limite, pois, um planeta limitado não pode responder a demandas ilimitadas". Precisamos, dizem, libertar-nos da obsessão consumista. "O egoísmo não é somente imoral, ele é suicida; desta vez não temos outra escolha senão uma nova solidariedade e novas formas de partilha".

Chegamos a esse ponto, reconhecem, porque há séculos não respeitamos mais as leis da vida, olvidando a sabedoria ancestral que ensinava: "não comandamos a natureza senão obedecendo a ela". É mais fácil enviar pessoas à lua e trazê-las de volta do que fazer com que os humanos respeitem os ritmos da natureza. Agora estamos colhendo os frutos envenenados da dessacralização da vida induzida pelo poder da tecno-ciência a serviço da acumulação de uns poucos.

A fé hebraico-cristã possui suas razões próprias para fundar um comportamento ecologicamente responsável. Parte da crença, semelhante àquela da moderna cosmologia, de que Deus transportou a criação do caos ao cosmos, quer dizer, de um universo marcado pela desordem a um outro no qual vige a ordem e a beleza. E Deus disse: "Isto é bom". Colocou o homem e a mulher no jardim do Éden para que o "cultivassem e o guardassem". "Cultivar" implica cuidar e favorecer o crescimento e "guardar" significa proteger e assegurar a continuidade dos recursos, como diríamos hoje, garantir um desenvolvimento sustentável.

Importa refazer a conexão rompida com a natureza para que possamos de novo gozar de sua beleza e confiar em seu futuro. Esta fé funda a esperança de que a criação possui um fim bom, tão finamente expresso no livro da Sabedoria: "Senhor, tu amas todos os seres e a todos poupas porque a ti pertencem, ó soberano amante da vida" (11, 24 e 26).
* Teólogo e professor emérito de ética da UERJ
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Mato Grosso foi responsável por 70% do desmatamento da Amazônia em abril, diz Inpe - Por Marco Antônio Soalheiro


Brasília - O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) informou nesta segunda-feira (2) que 1.123 quilômetros quadrados da Floresta Amazônica sofreram corte raso ou degradação progressiva durante o último mês de abril.Desse total, 794 quilômetros quadrados foram devastados somente no estado do Mato Grosso. Os dados foram colhidos pelo sistema Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter).Em março, o mesmo sistema havia registrado destruição de 112 quilômetros quadrados de floresta no estado do Centro-Oeste, mas naquele mês 69% do Mato Grosso não pôde ser observado pelos satélites, por causa da presença de nuvens. Em abril, a visibilidade aumentou, pois apenas 14% do estado permaneceu encoberto. O Deter apura apenas desmatamentos com área maior que 25 hectares, por conta da resolução dos sensores espaciais. Entretanto, devido à cobertura de nuvens, nem todos os desmatamentos maiores que 25 hectares são identificados pelo sistema.(Envolverde/Agência Brasil)

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