segunda-feira, 16 de março de 2009

Consensos problemáticos - Por Boaventura de Sousa Santos16/03/2009


Há anos me intriga a facilidade com que nas sociedades européias e da América do Norte se criam consensos. Refiro-me a consensos dominantes, perfilados pelos principais partidos políticos e pela grande maioria dos editorialistas e comentaristas dos grandes meios de comunicação social. São tanto mais intrigantes quanto ocorrem sobretudo em sociedades onde supostamente a democracia está mais consolidada e onde, por isso, a concorrência de ideias e de ideologias se esperaria mais livre e intensa. Por exemplo, nos últimos trinta anos vigorou o consenso de que o Estado é o problema, e o mercado, a solução; que a atividade econômica é tanto mais eficiente quanto mais desregulada; que os mercados livres e globais são sempre de preferir ao protecionismo; que nacionalizar é anátema, e privatizar e liberalizar é a norma.Mais intrigante é a facilidade com que, de um momento para o outro, se muda o conteúdo do consenso e se passa do domínio de uma ideia ao de outra totalmente oposta. Nos últimos meses assistimos a uma dessas mudanças. De repente, o Estado voltou a ser a solução, e o mercado, o problema; a globalização foi posta em causa; a nacionalização de importantes unidades econômicas, de anátema passou a ser a salvação. Mais intrigante ainda é o fato de serem as mesmas pessoas e instituições a defenderem hoje o contrário do que defendiam ontem, e de aparentemente o fazerem sem a mínima consciência de contradição. Isto é tão verdade a respeito dos principais conselheiros econômicos do Presidente Obama, como a respeito do Presidente da Comissão da União Europeia ou dos atuais governantes dos países europeus. E parece ser irrelevante a suspeita de que, sendo assim, estamos perante uma mera mudança de tática, e não perante uma mudança de filosofia política e econômica, a mudança que seria necessária para enfrentar com êxito a crise.Ao longo destes anos, houve vozes dissonantes. O consenso que vigorou no Norte global esteve longe de vigorar no Sul global. Mas a dissensão ou não foi ouvida ou foi punida. É sabido, por exemplo, que desde 2001 o Fórum Social Mundial (FSM) tem feito uma crítica sistemática ao consenso dominante, na altura simbolizado pelo Fórum Econômico Mundial (FEM). A perplexidade com que lemos o último relatório do FEM e verificamos alguma convergência com o diagnóstico feito pelo FSM faz-nos pensar que, ou o FSM teve razão cedo de mais, ou o FEM tem razão tarde de mais. A verdade é que, mais uma vez, o consenso é traiçoeiro. Pode haver alguma convergência entre o FEM e o FSM quanto ao diagnóstico, mas certamente não quanto à terapêutica.Para o FEM e, portanto, para o novo consenso dominante, rapidamente instalado, é crucial que a crise seja definida como crise do neoliberalismo, e não como crise do capitalismo, ou seja, como crise de um certo tipo de capitalismo, e não como crise de um modelo de desenvolvimento social que, nos seus fundamentos, gera crises regulares, o empobrecimento da maioria das populações dele dependentes e a destruição do meio ambiente. É igualmente importante que as soluções sejam da iniciativa das elites políticas e econômicas, tenham um carácter tecno-burocrático, e não político, e sobretudo que os cidadãos sejam afastados de qualquer participação efetiva nas decisões que os afetam e se resignem a “partilhar o sacrifício” que cabe a todos, tanto aos detentores de grandes fortunas como aos desempregados ou reformados com a pensão mínima.A terapêutica proposta pelo FSM, e por tantos milhões de pessoas cuja voz continuará a não ser ouvida, impõe que a solução da crise seja política e civilizacional, e não confiada aos que, tendo produzido a crise, estão apostados em continuar a beneficiar da falsa solução que para ela propõem. O Estado deverá certamente ser parte da solução, mas só depois de profundamente democratizado e livre dos lóbis e da corrupção que hoje o controlam. Urge uma revolução cidadã que, assente numa sábia combinação entre democracia representativa e democracia participativa, permita criar mecanismos efectivos de controlo democrático, tanto da política como da economia. É necessária uma nova ordem global solidária que crie condições para uma redução sustentável das emissões de carbono até 2016, data em que, segundo os estudos da ONU, o aquecimento global, ao ritmo actual, será irreversível e se transformará numa ameaça para a espécie humana. A existência da Organização Mundial de Comércio é incompatível com essa nova ordem. É necessário que a luta pela igualdade entre países e no interior de cada país seja finalmente uma prioridade absoluta. Para isso, é necessário que o mercado volte a ser servo, já que como senhor se revelou terrível.

Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal). Publicado originalmente em http://www.cartamaior.com.br

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O mundo não pertence aos humanos, por Suzana M. Pádua


17/02/2009, 08:00 - O mundo acaba de perder um ecólogo da mais alta categoria. A linha filosófica de Arne Naess (1912 - 2009), pouco divulgada no Brasil, influenciou pensadores em toda parte e lançou um movimento conhecido como “ecologia profunda”. Norueguês de nascença, Naess sempre se mostrou inconformado com a maneira com a qual o planeta tem sido tratado e defendeu a necessidade de uma nova consciência ecológica. Campos diversos do conhecimento e de atuação precisam se preocupar com valores que transformem a visão do ser humano, de modo que a vida seja apreciada por seu valor intrínseco. Sua personalidade parece ter sido versátil. Naess ficou conhecido por se embrenhar em longas caminhadas e escaladas, nas quais exercitava mente e corpo. Foi nas altas montanhas da Noruega que desenvolveu sua apreciação às fontes da natureza que suprem as necessidades vitais humanas, percebendo a urgência destas serem valoradas para que passem a ser melhor protegidas. Mesmo nascido em família abastada, deu exemplo de simplicidade e de coerência entre sua linha de pensamento e sua forma de vida. Tornou-se critico de como os países ricos gastam recursos sem se aterem à sustentabilidade.A distinção entre “ecologia profunda” e o que ele considera “ecologia superficial” vem de uma postura na qual os indivíduos percebem sua existência como parte do mundo natural. A “superficial”, ou aquela que normalmente se emprega sem maiores definições, cuida das conseqüências como poluição, esgotamento de recursos naturais, desaparecimento de espécies, entre outros, enquanto a “profunda” mergulha nas causas. Responsabiliza a primeira visão, dominante, ao primeiro mundo, que persiste na crença de que tecnologia e crescimento econômico indiscriminado são capazes de resolver os impactos causados pelo modelo de desenvolvimento por eles escolhido. Segundo Naess, a estrutura social precisa ser reformulada radicalmente para que a relação com a natureza possa ser sustentável. Sua postura é anticlassista, pois percebe que os inventos antipoluentes acabam por acirrar as diferenças entre ricos e pobres, uma vez que se tornam disponíveis apenas para aqueles com capacidade de investir nas soluções dos problemas criados. Defende a descentralização e a autonomia local como meios de se reduzir os impactos ambientais e de se aumentar as chances de participação de mais atores sociais nos processos decisórios.Na medida em que contesta o estilo de vida da sociedade moderna, seu pensamento se torna político. Mesmo assim, a visão difundida a seu respeito foi de que Naess é, eminentemente, um naturalista. Seus críticos não perceberam sua dimensão revolucionária, ou preferiram ignorá-la, resistindo às mudanças e às responsabilidades que deveriam ser assumidas, caso fosse aceita. Outros consideram que a “ecologia profunda” não foi divulgada na proporção de sua importância por ser avançada demais para sua época. Com o agravamento das crises ambientais, essa visão tem agora maiores chances de difusão.A ecologia profunda, portanto, exige uma mudança paradigmática na sociedade industrial/capitalista, uma vez que esta é essencialmente responsável pela crise ambiental atual. A natureza pode ser a fonte dessa transformação. Naess considera a natureza a melhor metáfora para as mudanças que precisam ocorrer. A complexidade biológica, por exemplo, pode servir de inspiração para compreendermos a complexidade sócio-cultural, com seus aspectos variados, que se complementam em teias sistêmicas e interdependentes. “Nosso mundo está com problemas por causa do comportamento humano fundamentado em mitos e costumes que estão causando a destruição da natureza e provocando as mudanças climáticas. Podemos agora deduzir a mais simples teoria cientifica da realidade: a estrutura ondulada da matéria no Espaço. Ao compreendermos como nós e tudo o que nos cerca está interconectado com o Espaço, podemos deduzir soluções para os problemas fundamentais do conhecimento humano em Física, Filosofia, Metafísica, Teologia, Educação, Saúde, Evolução e Ecologia, Política e Sociedade. Esta é a profunda nova maneira de pensar que Albert Einstein descreveu, que existimos como estruturas espaciais estendidas do universo. Uma mera ilusão de sermos corpos separados. Isto apenas confirma as intuições de antigos filósofos e místicos.” *A solidariedade com toda a vida, para Naess, parte de uma intuição e não de uma teoria filosófica. Todas as espécies têm o mesmo direito à vida e a se desenvolverem em sua plenitude. Esse princípio se contrasta com o que está ocorrendo, pois a humanidade tem relação direta com a matança e a destruição de outros organismos, ecossistemas, montanhas, rios e a Terra em si.O posicionamento de Arne Naess é antiantropocêntrico. Oferece uma oportunidade à sociedade de perceber sua responsabilidade pela destruição de todos os elementos da natureza. Sua proposta pressupõe respeito à vida em geral e uma relação espiritual com a Terra.Os princípios básicos da ecologia profunda são:

O bem-estar e o potencial de desabrochar do ser humano e da vida não-humana tem valor em si mesmo (valor intrínseco ou valor inerente). Esses valores independem do uso do mundo não-humano pela humanidade;

A riqueza e a diversidade da vida contribuem para a realização desses valores, além de representarem valores por si só;

Os seres humanos não têm o direito de reduzir a riqueza e a diversidade do planeta, exceto para suprir suas necessidades vitais;

O desabrochar da vida humana e das culturas têm relação direta com um decréscimo substancial da população humana. O desabrochar de outras formas de vida depende desse decréscimo;

Na atualidade, a interferência humana nas demais formas de vida ocorre em demasia, e esta situação tem piorado rapidamente;

As políticas precisam ser mudadas de acordo com essas necessidades, pois influenciam a economia, a tecnologia e estruturas ideológicas. O resultado precisa ser profundamente diferente daquele de agora;

A mudança ideológica é, em essência, apreciar a qualidade da vida (priorizando situações com valores inerentes), ao invés de incentivar o anseio de se aumentar o nível de vida;

Aqueles que se identificam com esses pontos de vista têm a obrigação direta ou indireta de tentar implementar as mudanças necessárias.Em essência, a ecologia profunda formula perguntas profundas. O adjetivo (profundo) estressa o porquê e o como, enquanto a maioria não se atém a questionamentos dessa natureza. A ecologia, como ciência, não investiga qual a sociedade ideal para se manter um ecossistema, por exemplo. Esse seria um campo da política, da filosofia ou da ética. Enquanto os ecologistas mantiverem visões estreitas, Naess acredita que não formularão perguntas essenciais à manutenção da vida na Terra. O que defende é uma ampliação significativa de visão no que chama de “ecosofia”. Sofia vem do grego e refere-se à sabedoria presente na ética, nas normas, nas regras e nas práticas. Ecosofia ou ecologia profunda representa um salto da ciência à sabedoria. É este o passo que Naess almejava. Infelizmente, este visionário morreu em janeiro de 2009, com mais de 90 anos, mas podia ter durado muito mais.
Faz parte daqueles poucos que podiam ficar eternamente entre nós. Que suas idéias permaneçam...
Publicado originalmente em http://www.oeco.com.br

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Nem tudo são más notícias neste mundo...


Depois de longa e involuntária ausência por envolvimento, nos últimos meses, com atividades que quase nunca me davam a oportunidade de acessar a rede, retorno com uma boa notícia para o meio ambiente. Espero que muitas outras surjam ao longo da caminhada. Tentarei ser mais assíduo, doravante...


Força, Paz e Luz!




14/10/2008 - Nova técnica russa de reciclagem de plástico gera gasolina pura


Cientistas russos da Universidade Medelevev em Moscou desenvolveram uma técnica de reciclagem que permite a produção de 1 litro de gasolina a partir de 1 quilo de sachês de plástico reciclado. O plástico e a gasolina são derivados do petróleo. Existem vários esforços ao redor do mundo, inclusive alguns já em operação comercial, tentando reciclar subprodutos do petróleo, mas este é o primeiro que gera gasolina pura. A tecnologia, desenvolvida pela equipe do Dr. Valery Shvets, é baseada no tratamento termal catalisado de materiais poliméricos. Os rejeitos plásticos devem ser simplesmente moídos e derretidos, sem necessidade de lavagem. A seguir é adicionado o catalisador em pó e a mistura é exposta à destruição termal, o que acontece em uma espécie de "panela de pressão" com temperatura e pressão definidas. Para cada litro de gasolina produzido o processo gera também uma pequena quantidade ("uma colher de mesa", segundo os pesquisadores) de uma substância viscosa densa, parecida com o piche. Como também é inflamável, esse rejeito também pode ser reaproveitado. Os pesquisadores não divulgaram detalhes sobre o composição do catalisador, já que é nele que está o segredo da descoberta, que está sendo patenteada. Um protótipo do sistema já está em funcionamento contínuo no laboratório da Universidade.


* Com informações do jornal Pravda de Moscou - Envolverde/Portal do Meio Ambiente

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Parar a Roda... - Por Nísio Miranda

Com certo atraso - até porque quando a recebemos o Ecocidadania Ativa não existia - mas com a atualidade das mensagens que se perenizarão, tanto pela importância de quem as escreve, como pela convicção e a força do que dizem, segue postagem da Carta Circular 2008 de Dom Pedro Casaldáliga, que pela grandeza, luminosidade e generosidade, dispensa comentários.

Cantaremos gregoriano?

Paz e Bem!

Circular 2008 - “PARAR A RODA BLOQUEANDO SEUS RÁIOS” - Por Pedro Casaldáliga

Estava eu pensando a circular de 2008, quando me invade, como um rio bíblico de leite e mel, uma autêntica enchente de mensagens de solidariedade e carinho por ocasião dos meus 80 anos. Não podendo responder a cada um e a cada uma em particular, inclusive porque o irmão Parkinson tem os seus caprichos, peço a vocês que recebam esta circular como um abraço pessoal, entranhável, de gratidão e de comunhão renovadas.

Estou lendo uma biografia de Dietrich Bonhoeffer, intitulada, muito significativamente, Deveríamos ter gritado. Bonhoeffer, teólogo e pastor luterano, profeta e mártir, foi assassinado pelo nazismo, no dia 9 de abril de 1945, no campo de concentração de Flossenbürg. Ele denunciava a «Graça barata» à qual reduzimos muitas vezes nossa fé cristã. Advertia também que «quem não tenha gritado contra o nazismo não tem direito a cantar gregoriano». E chegava finalmente, já nas vésperas do seu martírio, a esta conclusão militante: «Tem que se parar a roda bloqueando seus raios». Não bastava então socorrer pontualmente as vítimas trituradas pelo sistema nazi, que para Bonhoeffer era a roda; e não nos podem bastar hoje o assistencialismo e as reformas-remendo frente a essa roda que para nos é o capitalismo neoliberal com os seus raios do mercado total, do lucro omnímodo, da macro-ditadura econômica e cultural, dos terrorismos do estado, do armamentismo de novo crescente, do fundamentalismo religioso, da devastação ecocida da terra, da água, da floresta e do ar.

Não podemos ficar estupefatos diante da iniqüidade estruturada, aceitando como fatalidade a desigualdade injusta entre pessoas e povos, a existência de um Primeiro Mundo que tem tudo e um Terceiro Mundo que morre de inanição. As estatísticas se multiplicam e vamos conhecendo mais números dramáticos, mais situações infra-humanas. Jean Ziegler, relator das Nações Unidas para a Alimentação, afirma, carregado de experiência, que «a ordem mundial é assassina, pois hoje a fome não é mais uma fatalidade». E afirma também que «destinar milhões de hectares para a produção de bio-carburantes é um crime contra a Humanidade». O bio-combustível não pode ser um festival de lucros irresponsáveis. A ONU vem alertando que o aquecimento global do planeta avança mais rapidamente do que se pensava e, a menos que se adotem medidas urgentes, provocará a desaparição do 30% das espécies animais e vegetais, milhões de pessoas serão privadas de água e proliferarão as secas, os incêndios, as enchentes. A gente se pergunta angustiado quem irá adotar essas «medidas urgentes».

O grande capital agrícola, com o agronegócio e cada vez mais o hidronegócio, avança sobre o campo, concentrando terra e renda, expulsando às famílias camponesas e jogando-as errantes, sem terra, acampadas, engrossando as periferias violentas das cidades. Dom Erwin Kräutler, bispo de Xingu e presidente do CIMI, denuncia que «o desenvolvimento na Amazônia tornou-se sinônimo de desmatar, queimar, arrasar, matar». Segundo Roberto Smeraldi, de Amigos da Terra, as políticas contraditórias do Banco Mundial por um lado «prometem salvar as árvores» e por outro lado, «ajudam a derrubar a Amazônia».

Mas a Utopia continua. Como diria Bloch, somos «criaturas esperançadas» (e esperançadoras). A esperança segue, como uma sede e como um manancial. «Contra toda esperança esperamos». Da esperança fala, precisamente, a recente encíclica de Bento XVI. (Pena que o Papa, nesta encíclica, não cita nem uma vez o Concílio Vaticano II, que nos deu a Constituição Pastoral Gaudium et Spes –Alegria e Esperança-. Seja dito de passagem, o Concílio Vaticano II continua amado, acusado, silenciado, preterido... Quem tem medo do Vaticano II?). Frente ao descrédito da política, em quase todo o mundo, nossa Agenda Latinoamericana 2008 aposta por uma nova política; até «pedimos, sonhando alto, que a política seja um exercício de amor». Um amor muito realista, militante, que subverta estruturas e instituições reacionárias, construídas com a fome e o sangue das maiorias pobres, ao serviço do condomínio mundial de uma minoria plutocrata.

Por sua parte as entidades e os projetos alternativos reagem tentando criar consciência, provocar uma santa rebeldia. O FSM 2009 vai-se realizar, precisamente, na Amazônia brasileira e terá a Amazônia como um dos seus temas centrais. E o XII Encontro Inter-eclesial das CEBs, em 2009, se celebrará também na Amazônia, em Porto Velho, Rondônia. Nossa militância política e nossa pastoral libertadora devem assumir cada vez mais estes desafios maiores, que ameaçam nosso Planeta. «Escolhemos, pois, a vida», como reza o lema da Campanha da Fraternidade 2008. O apóstolo Paulo, em sua Carta aos Romanos, nos lembra que «toda a criação geme e está com dores de parto» (Rom.8,22). Os gritos de morte cruzam-se com os gritos de vida, neste parto universal.

É tempo de paradigmas. Creio que hoje se devem citar, como paradigmas maiores e mais urgentes, os direitos humanos básicos, a ecologia, o diálogo inter-cultural e interreligioso e a convivência plural entre pessoas e povos. Estes quatro paradigmas nos afetam a todos, porque saem ao encontro das convulsões, objetivos e programas que está vivendo a Humanidade maltratada, mas esperançada ainda sempre.

Com tropeços e ambigüidades Nossa América se move para a esquerda; «novos ventos sopram no Continente»; estamos passando «da resistência à ofensiva». Os povos indígenas de Abya Yala têm saudado com alegria a Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, que afeta a mais de 370 milhões de pessoas em 70 paises do Mundo; e reivindicarão a execução real dessa Declaração.

Nossa Igreja da América Latina e o Caribe, em Aparecida, se não foi aquele Pentecostes que queríamos sonhar, foi uma profunda experiência de encontro entre bispos e povo; e confirmou os traços mais característicos da Igreja da Libertação: o seguimento de Jesus, a Bíblia na vida, a opção pelos pobres, o testemunho dos mártires, as comunidades, a missão inculturada, o compromisso político.

Irmãos e irmãs, que raios vamos quebrar em nossa vida diária?, como ajudaremos a bloquear a roda fatal?, teremos direito a cantar gregoriano?, saberemos incorporar em nossas vidas esses quatro paradigmas maiores traduzindo-os em prática diária?

Recebam um abraço entranhável na esperança subversiva e na comunhão fraterna do Evangelho do Reino. Vamos sempre para a Vida.
Recebida em 07 de março de 2008.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

RETALHO DE POESIA - Por Nísio Miranda



Louco por ver o que restou

da história - Felicidade

cidade perdida na memória.

Fazer o quê?

Um mês ausente! A cada dia chego mais à conclusão de que não nasci para ser "blogueiro". Mas continuarei insistindo, até que alcance a excelência de conseguir publicar todos os dias artigos meus e dos que falam a nossa linguagem. Enquanto isso não acontece, por pura falta de tempo e, talvez, de necessárias dedicação e abdicação de outras tarefas menos nobres, vou publicando - hoje sim, amanhã não - as pérolas de nossos pensadores prediletos. Como essa aí embaixo, do Leonardo Boff.

Até breve (se eu conseguir....)

Paz e Bem!