quarta-feira, 10 de julho de 2013

IV Conferência Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte


Aos organizadores da IV Conferência Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte

Prezad@s, Saúde e Paz!

Tive o privilégio de compor a COE (Comissão Organizadora Estadual) da Conferência em Minas Gerais e atuar como relator e sistematizador da mesma em duas de suas edições, junto com muitos dos (as) companheiros (as) que, hoje, engrossam as fileiras desta organização municipal. Entretanto, estive ausente deste processo, por questões profissionais e pessoais que, infelizmente, não me concedem tempo para a dedicação necessária a ele. 

Mas tenho acompanhado de perto, seja pela conversa com os mais próximos, seja pelas correspondências e discussões do grupo que chegam até a mim. E já efetuei a minha inscrição, com a esperança de estar presente. 

Quero me solidarizar com todos (as) e parabenizar os companheiros e as companheiras, colegas e conhecidos, grandes militantes da causa ambientalista, que extrapola o simples cuidar do meio ambiente, trazendo em seu bojo uma complexa transdisciplinaridade e transversalidade, que nos impele a pensar todos os aspectos da vida no Planeta de forma responsável, visionária e, principalmente, ética, solidária e transcendental. São claras as dificuldades que o grupo tem enfrentado para realizar essa Conferência, de tamanha importância para qualquer cidade do mundo, mas, especialmente, para a nossa Belo Horizonte e sua Região Metropolitana: um mosaico entristecedor de crescimento desordenado, explosão demográfica, inescrupulosa especulação imobiliária com o aval do dito "poder público"  (que, convertido em "Serviço Público" tenderia a ser mais eficiente e democrático), exploração e poluição sem tréguas e sem rédeas do patrimônio natural (minérios, água, biomas e  atmosfera), desprezo pelos direitos das minorias, alheamento quanto aos direitos fundamentais da cidadania, violência crescente, trânsito caótico, e outros tantos problemas. Tantos, que inumeráveis!

 
Mas renova-se a nossa esperança - fazendo recuarem as angústias - a determinação e a coragem, a combatividade e a força de realização com que têm trabalhado e com que coroarão de bom êxito - vislumbro, claramente, isso - este evento - que, se não redenção - alívio e alento, para os que aqui vivem, trará nas ideias e intenções prospectadas ao longo dos trabalhos. E, aí, a nova missão será, de maneira especial, provocar o envolvimento da sociedade na sensibilização do Serviço Público para a efetiva implementação de políticas públicas que solucionem os problemas ou, pelos menos, os amenizem. 

Compartilho firmemente de seus ideais e anseios! E darei, por cá, minha humilde parcela de contribuição na mobilização para a Conferência, que desejo, principalmente pelo modo cidadão e combativo, verdadeiramente democrático, que está sendo organizada, seja profícua e engrandecedora da nossa luta! 

Bom trabalho, Força e Coragem para o Sonho, para a Luta e para a Realização do que se propuser!

Com fraternais saudações ecocidadãs,

Nísio Miranda. 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Água: recurso escasso ou abundante?

Uma excelente reflexão sobre o uso e a disponibilidade de nosso patrimônio hídrico, com números que nos alertam para a necessidade de revermos conceitos e adotarmos melhores práticas na utilização da água. 

 

Água: recurso escasso ou abundante?

O cidadão-consumidor consciente da importância de não desperdiçar um recurso precioso como a água servirá de exemplo onde estiver, além de poder mobilizar outros
É lugar comum dizer que a Terra é o planeta água. No entanto, 97,5% da água do planeta é salgada, apenas 2,5% é doce, sendo que a maior parte dela está aprisionada em aquíferos subterrâneos e geleiras. Só 0,26% da água doce da Terra está disponível em lagos, reservatórios e bacias hidrográficas, mais acessíveis ao homem. Isso significa dizer que apenas 0,0065% da água na Terra é água doce disponível. Para se ter ideia de quão pouca água é doce e disponível, basta dizer que se toda a água da Terra coubesse em um balde de 10 litros, a água doce disponível seria o equivalente a apenas 13 gotas.
Por outro lado, o consumo dessas 13 gotas vem crescendo mais que o número de habitantes do planeta: entre 1900 e 2000, a população mundial aumentou 3,6 vezes (de 1,65 bilhão para 6 bilhões de pessoas), enquanto o consumo de água cresceu dez vezes (de 500 km3 por ano para aproximadamente 5.000 km3 por ano)[1].
O desafio é encontrar uma alternativa sustentável aos atuais modelos de produção e de consumo, que tem criado quatro macroproblemas com relação à água:
1. Concentração e dificuldade de acesso: agrande lacuna na disponibilidade de água quase nada tem a ver com escassez, isto é, com falta de água no sentido estrito do termo. Um exemplo é a Indonésia, um dos seis países com maior disponibilidade de água no mundo, onde o volume disponível é superior a 13 mil metros cúbicos de água por pessoa. No entanto, um quarto da população não tem acesso à água potável.
No Brasil, as regiões Norte e Nordeste são as que mais sofrem. Apesar de a Amazônia concentrar 81% do potencial hídrico do país, no Norte menos de 14% da população urbana é atendida por sistemas de abastecimento satisfatórios. No Nordeste, apenas 18% da população tem acesso satisfatório à água, e a região ainda concentra os maiores problemas do país em relação à disponibilidade de mananciais, por causa da escassez de chuvas.
Segundo o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos, apresentado no ano passado na Rio+20, quase 1 bilhão de pessoas em todo o mundo não têm acesso a fontes tratadas de água potável, e o número de pessoas que não têm acesso à água corrente nas cidades é maior hoje do que ao final do século passado.
2. Poluição: segundo a ONU[2], a poluição é hoje a principal causa da redução dos volumes de água adequada para o consumo, com sérios impactos na qualidade de vida das pessoas, na saúde, no investimento público, no custo da água para a população e no meio ambiente. Resíduos industriais e agrícolas e esgoto doméstico sem tratamento são as principais causas da poluição de mananciais.
3. Desperdício e excesso: nas cidades brasileiras, o maior desperdício se revela nas chamadas “perdas na rede”. É água que sai limpa e tratada da distribuidora, mas que não chega ao consumidor, pois se perde pelas tubulações velhas ou sem manutenção das empresas fornecedoras de água ou em instalações clandestinas, os chamados “gatos”. Em média, 37% da água tratada é perdida – um a cada três litros. Isso significa que, se não houvesse essas perdas, o brasileiro médio, que vive 73,5 anos, poderia viver até os 100 sem necessidade de aumentar o volume de água tratada. E, portanto, sem necessidade de investimentos em estações de tratamento de água. Bastaria que as concessionárias de água cuidassem de suas redes.
Além dessas perdas na distribuição, há os maus hábitos de uso da água pelo consumidor no dia-a-dia, como “varrer” a calçada com a mangueira, tomar banhos demorados, descuidar de torneiras com defeito, ou não consertar pequenos vazamentos. Além da água usada para matar a sede, cozinhar, limpar e se limpar, as pessoas “bebem” muita água embutida nos produtos e serviços que compram. No Brasil, e em média no mundo, agricultura, pecuária e indústria consomem, em conjunto, nove em cada dez litros produzidos. Da água destinada à agricultura brasileira, apenas 40% é efetivamente aproveitada. O restante é perdido pelos usos em excesso ou fora do período de necessidade da planta e nos horários de maior evaporação[3].
4. Aumento do custo: os problemas anteriores levam ao aumento do custo da água tratada. Quanto mais água se consome, se perde, se desperdiça ou se polui, tanto mais será gasto para buscar em novas fontes –  em geral mais distantes – e para tratar volumes crescentes de água nas estações de tratamento, volumes que serão desperdiçados e poluídos.
Como se pode ver, o problema é complexo e sua solução demanda ações de vários atores sociais. Um desses atores é o consumidor, que tem em suas próprias mãos a possibilidade de fazer parte da solução do problema. Aparentemente, essa contribuição do consumidor, frente ao conjunto dos problemas, é pequena. No entanto, se os cidadãos do mundo se conscientizarem dos problemas existentes em relação à água, cada um levará a todas as funções que desempenha no mundo esta mesma consciência – seja como funcionário de um governo ou de uma empresa, seja como cidadão de uma comunidade, seja como consumidor individual ou na relação de consumo junto à sua família. Nesse sentido, o cidadão-consumidor consciente da importância de não desperdiçar um recurso precioso como a água servirá de exemplo onde estiver, além de poder mobilizar outros cidadãos para um consumo consciente de água. Nessa perspectiva, as ações do consumidor individual passam a ter um significado e um impacto para muito além do domínio de sua própria casa, podendo influenciar o consumo de todos aqueles com quem se relaciona, tornando emblemático agir de outra maneira, de modo a só gastar o que realmente é necessário:
  • Economizar água nas atividades domésticas;
  • Optar por produtos que usem menos água em sua cadeia produtiva, de modo a incentivar a indústria e, sobretudo, a agropecuária, a inovar para reduzir o seu uso, e a zerar o desperdício e a poluição da água;
  • Usar todas as oportunidades de reduzir o desperdício de água ao mínimo na empresa ou organização onde trabalha; e
  • Pressionar governos e empresas fornecedoras de água para que reduzam as perdas na rede de distribuição, assim como o desperdício de água em suas próprias atividades.
 
Helio Mattar, Ph.D em engenharia industrial, é diretor-presidente do Instituto Akatu.

Artigo originalmente publicado na edição de abril da Revista Rossi.

terça-feira, 2 de abril de 2013

MÍSTICA, ÉTICA E ECOSOFIA

Frei Betto

Há estreito vínculo entre religião e ecologia. Os calendários litúrgicos refletem os ciclos da natureza. Toda religião expressa o contexto ambiental que lhe deu origem.

Os hebreus e, em geral, os povos semitas, viviam em regiões inóspitas, desérticas, o que os levou a desenvolver o senso do sagrado centrado na transcendência. Onde a natureza é exuberante, como nos trópicos, se acentuou a imanência do sagrado. Todo o entorno geográfico e climático influi na relação religiosa que se tem com a natureza.

O cristianismo teve sua origem em áreas urbanas. Via a natureza à distância, como algo estranho e adverso. A palavra pagão, que englobava todos os não cristãos, significa etimologicamente “habitante do campo”.

Todas as tradições religiosas indígenas mantêm estreito vínculo com a natureza. São teocósmicas, o divino se manifesta no cosmo e em seus componentes, como a montanha (Pachamama). 

Hinduísmo e taoísmo cultuam a natureza. Já o confucionismo e o budismo são tradições mais antropocêntricas, voltadas à consciência e às virtudes humanas.

O islamismo mantém uma relação singular com a natureza. É uma religião semítica, cultua a transcendência de Alá, mas conserva, como o judaísmo, estreito vínculo com o entorno ambiental, o que se reflete na distinção entre alimentos puros e impuros, jejum, cuidado com a higiene pessoal etc.

As religiões aborígenes (ab-origem = que estão na origem de todas as outras) não separam o humano da natureza. Há um forte sentido de equilíbrio e reciprocidade entre o ser humano e a Terra. O que dela se tira a ela deve ser devolvido. 

Entre as grandes tradições religiosas é o hinduísmo que melhor cultiva essa harmonia. Toda a Índia respira veneração sagrada por rios, animais, árvores e montanhas. A veneração pelas vacas reflete esse senso de equilíbrio, pois se trata de um animal do qual se obtém muitos produtos, do leite e seus derivados ao esterco como fertilizante, e isso é mais importante do que comê-las.

Três grandes desafios, segundo o místico catalão Javier Melloni, estão inter-relacionados: a interioridade, a solidariedade e a sobriedade. A interioridade nos impele à via mística; a solidariedade, à ética; e a sobriedade à preservação ambiental. 

Nossa civilização estará condenada à barbárie se as pessoas perderem a capacidade de interiorização, de fazer silêncio, de meditar, de modo a saber escutar as necessidades do próximo (solidariedade) e o grito agônico da Terra (sobriedade). 

Urge submeter a ecologia à ecosofia, a sabedoria da Terra, na expressão de Raimon Panikkar. Não se trata de impor a razão humana sobre a natureza (eco-logos), mas sim de dar ouvidos à sabedoria da Terra, captar o que ela tem a nos dizer com seus ciclos, suas mudanças climáticas e até com suas catástrofes.

Embora haja avanços em nosso comportamento, graças ao crescimento da consciência ecológica (reciclagem, uso da água, produtos ecologicamente corretos etc), ainda estamos atrelados a um modelo civilizatório altamente nocivo à saúde de Gaia e dos seres humanos.

Continuamos a consumir combustíveis escassos e poluentes e, na contramão de todo o movimento ecológico, submergimos à onda consumista que produz, a cada dia, perdas significativas da biodiversidade e toneladas de lixo derivado de nosso luxo.

Três grandes mentiras precisam ser eliminadas de nossa cultura para que o futuro seja ecologicamente viável e economicamente sustentável: 1) Os recursos da Terra não são suficientes para todos; 2) Devo assegurar os meus recursos, ainda que outros careçam dos mesmos; 3) O sistema econômico que predomina no mundo, centrado na lógica do mercado, e o atual modelo civilizatório, de acumulação de bens, são imutáveis. 

Nosso planeta produz, hoje, alimentos suficientes para 12 bilhões de pessoas, e é habitado por 7 bilhões. Portanto, não há excesso de bocas, há falta de justiça.

Não haverá futuro digno para a humanidade sem uma economia de partilha e uma ética da solidariedade.

Durante milênios povos indígenas e tribos desenvolveram formas de convivência baseada na sustentabilidade, na harmonia com a natureza e com os semelhantes. Como considerar ideal um modelo civilizatório que, dos 7 bilhões de habitantes do planeta, condena 4 bilhões a viverem na pobreza ou em função de suas necessidades animais, como se alimentar, abrigar-se das intempéries e educar as crias?


Frei Betto é escritor, autor do romance “Aldeia do Silêncio”, que a Editora Rocco faz chegar às livrarias este mês.

Descontrole
Naquele dia de sol, Mário chegou feliz e estacionou o reluzente caminhão em frente à porta de sua casa. Após 20 anos de muita economia e intenso trabalho, sacrificando dias de repouso e lazer, ele conseguiu.
Comprou um caminhão. Orgulhoso, entrou em casa e chamou a esposa para ver a sua aquisição. A partir de agora, seria seu próprio patrão.
Ao chegar próximo do caminhão, uma cena o deixou descontrolado. Seu filho de apenas 6 anos estava martelando alegremente a lataria do caminhão.
Irritado e aos berros, ele investiu contra o filho.
Tomou o martelo das mãos dele e, totalmente fora de controle, martelou as mãozinhas do garoto.
Sem entender o que estava acontecendo, o menino se pôs a chorar de dor, enquanto a mãe interferiu e retirou o pequeno da cena.
Na seqüência, ela trouxe o marido de volta à realidade e juntos levaram o filho ao hospital, para fazer curativos.
O que imaginavam, no entanto, fosse simples, descobriram ser muito grave. As marteladas nas frágeis mãozinhas tinham feito tal estrago que o garoto foi encaminhado para cirurgia imediata.
Passadas várias horas, o cirurgião veio ao encontro dos pais e lhes informou que as dilacerações tinham sido de grande extensão e os dedinhos tiveram que ser amputados.
De resto, falou o médico, a criança era forte e tinha resistido bem ao ato cirúrgico. Os pais poderiam aguarda-lo no quarto para onde logo mais seria conduzido.
Com um aperto no coração, os pais esperaram que a criança despertasse. Quando, finalmente, abriu os olhos e viu o pai o menino abriu um sorriso e falou:
"Papai, me desculpe, eu só queria consertar o seu caminhão, como você me ensinou outro dia. Não fique bravo comigo."
O pai, com lágrimas a escorrer pela face, em desconsolo, se aproximou mais e lhe disse que não tinha importância o que ele havia feito.
Mesmo porque, a lataria do caminhão nem tinha sido estragada.
O menino insistiu: "quer dizer que não está mais bravo comigo?"
"Não, mesmo", falou o pai.
"Então", perguntou o garoto, "se estou perdoado, quando é que meus dedinhos vão nascer de novo?"
***
Toda vez que perdemos a calma, perdemos também a lucidez e o bom senso. Nesses momentos, podemos cometer muitas tolices.
E quando investimos contra as criaturas que amamos, podemos machuca-las muito. Podemos feri-las com palavras e com atos.
E, em se tratando de crianças, que são frágeis e ficam indefesas frente ao descontrole dos adultos, tudo assume maior gravidade.
Jamais nos permitamos a ira, que é sempre má companhia. Domemos as nossas más tendências e nossos impulsos agressivos, recordando que nada na vida é mais precioso do que as pessoas.
As coisas que possamos adquirir nos servirão por algum tempo, mas, somente os nossos amores estarão conosco sempre, não importando o local ou as condições que venhamos a nos encontrar.
Preservemos a calma e ofertemos para aqueles que são os sóis das nossas vidas somente o carinho, a ternura e as doces manifestações do amor.
Equipe Redação do Momento Espírita, a partir de texto intitulado não vale chorar, de autoria desconhecida da equipe.

terça-feira, 19 de março de 2013

Filtro de barro brasileiro é o mais eficiente do mundo

Filtro de barro brasileiro é o mais eficiente do mundo

O sistema lento de gotejamento colabora para que micro-organismos não passem pelo filtro - Foto: Reprodução
O sistema lento de gotejamento colabora para que micro-organismos não passem pelo filtro - Foto: Reprodução
 
18/03/2013 - Augusto Pires, Fonte: Redação Dispersa

Nós, brasileiros, temos provavelmente o melhor sistema de filtragem de água nas mãos, há muito tempo, e nem mesmo sabíamos disso. Pesquisas norte-americanas apontaram que os filtros tradicionais de barro com câmara de filtragem de cerâmica são muito eficientes na retenção de cloro, pesticidas, ferro, alumínio, chumbo (95% de retenção) e ainda retém 99% de Criptosporidiose, um parasita causador de doenças. 

Essas conclusões são baseadas nas pesquisas demonstradas no livro The Drinks Water Book, de Colin Ingram, ótima referência para pesquisas sobre sistemas de filtragem de água. 

As pesquisas revelam que sistemas mais eficientes são baseados na filtragem por gravidade, onde a água lentamente passa pelo filtro e goteja num reservatório inferior, justamente como são os filtros de barro no Brasil. Esse sistema mais 'calmo' de filtrar a água garante que micro-organismos e sedimentos não passem pelo filtro devido a uma grande pressão exercida pelo fluxo de água. 

Essas conclusões levam a crer que quando um filtro de água sofre uma pressão devido ao fluxo da água da torneira ou da tubulação, o processo fica prejudicado, pois a pressão sobre o conjunto faz com que micro-organismos, sedimentos ou mesmo elementos químicos como ferro e chumbo passem pelo sistema chegando ao copo do consumidor. 

Por fim a pesquisa revela também que muitas das tecnologias que são lançadas no mercado não têm muita utilidade, pois, em geral não impedem que elementos perigosos como o flúor ou arsênio passem pelo processo de filtragem, assim sendo suficiente a compra de um filtro simples de gotejamento e cerâmica. 

Assim é sempre bom ficarmos atentos na compra de produtos que são importantes à saúde e sempre analisarmos bem o produto de acordo com a sua real necessidade.

Fonte: MetaEfficient

segunda-feira, 18 de março de 2013

 

Sagarana: o que será? 

                                              Por Nísio Miranda




Sagarana não é uma lenda. Muito menos, unicamente, um livro de contos do genial Guimarães Rosa.

Entre um extremo e outro – da mística da palavra; do sertão iniciático e da travessia cotidiana e abrupta, não-dimensionável, íntimo e infinito em cada ser individualizado e múltiplo, à materialização, em prosa irrepreensível do mago tradutor do sertão - a utopia refloresce, insurgindo-se contra a dureza dos dias urbanos, contra a irresignada insatisfação humana traduzida em consumo, em individualismo, em alheamento, em alienação, em estagnação dos sentimentos, em previsível morte multi-aspectual.
Sagarana é, assim, intraduzível. Inobstante isso, localizável – pelo menos geograficamente. Distrito de Arinos, Noroeste das Gerais (como se o sertão não só se permitisse mensurar espiritualmente).
O que não raramente se conclui é que Sagarana tem que ser vivida. Vivenciada. Experimentada e sorvida como algo com que nunca nos deliciamos, seja pela raridade e escassez, seja pela inacessibilidade a que os segredos e os rituais submetem os objetos de desejo, profanos ou sagrados, ao homem que, ao viajar, não se atém à paisagem, não se fluidifica em intersecção com as almas passantes, impregnadas de chão, de inimagináveis venturas e desventuras, transformadas em faces enrugadas e olhos sábios, sorrisos tímidos, mas radiantes de sentimento e esperança.
Sagarana está ali: entre um tanto e outro de sertão banhado pelo contemplativo Urucuia, como um óvulo à espera da fecundação, como animal hibernante na expectativa de outra primavera, como um botão prestes a romper em enigmática flor.
Eis que, ao caminhar, avista-se no horizonte a utopia que, no dizer do poeta, afasta-se a cada passo dado, compelindo-nos à frente. A utopia que provoca os visionários, remetendo-os da intenção ao gesto, da inércia da reflexão ao ato profícuo da recriaçãodo mundo. Pois que “o sertão é o mundo”.

E dali, de modo profético, surgirá, tanto mais o tempo se adiante, para além de vãs promessas – meras indutoras de esperanças, multiplicadoras de sonhos – uma verdadeira incubadora do que de mais carece a nossa gente, do que mais merece a nossa terra, na parceria salutar de gestores públicos, ativistas sociais, culturais, ambientais e lideranças populares, em busca de soluções simples, mas ricas em mobilização social, em reconstrução da cidadania, em desenvolvimento sustentável.
Na generosa acolhida da gente que ali vive, os que ali se encontram, anualmente, constroem os pilares de uma colmeia tecnológica, com uma visão humanista e universalista, que terá operários e operárias em número e qualidade suficientes para polinizar a trajetória da viçosa e fértil Sagarana: feito Rosa para o Sertão.



Belíssimo pôr-do-sol em Congonhas, Minas Gerais, no dia 13/03/2013. À esquerda, o Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, que abriga as obras do gênio do Barroco, Antônio Francisco Lisboa: os doze profetas em pedra sabão, adornando o adro do templo, além de pórticos e altares; e as imagens em madeira, que ilustram os Passos da Paixão de Cristo, nas capelas do passos, ao longo do jardim em frente. Foto do amigo André Candreva.

segunda-feira, 4 de março de 2013

A hora de repensar os reservatórios de hidrelétricas

Por Luís Nassif

Vamos retomar a questão dos reservatórios em usinas.
Antes de Belo Monte, houve abusos extremos contra o meio ambiente, na usina de Balbina. Imensos lagos inundaram enormes áreas de mata.

Foto: Thaysa Meirelles/Flickr Foto: Thaysa Meirelles/Flickr
Houve a grita dos movimentos ambientalistas, uma ação mais firme do Ministério Público Federal, maior rigor do IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente), da Funai (Fundação Nacional do Índio).

A partir daí, no entanto, o pêndulo virou de forma perigosa.
Decisões de política pública não são neutras nem indolores. São escolhas. Como tal, cabe à política pública buscar o ótimo, a compatibilização ideal entre as várias prioridades.
***
No caso dos reservatórios de hidrelétricas, há duas prioridades: mitigação dos efeitos ambientais e segurança energética. Se se conferir 100% de prioridade a um lado, mata-se o outro.

Por segurança energética entenda-se um volume de água armazenada que garanta alguns meses de consumo. Como o consumo aumenta todo dia, o mesmo tem que ocorrer com os reservatórios. Dos reservatórios depende o próprio  crescimento das energias alternativas  sustentáveis.

Por exemplo, não se pode apostar na energia eólica se não houver reservas para compensar períodos de menor vento.

***

Certamente não se pretende voltar à devastação dos projetos anteriores. Mas não se pode tratar a questão ambiental e indígena como intocável. Nem definir uma regra geral para todo projeto, sem atentar para as características de cada um. Não tem lógica. Hoje em dia, há um bom potencial energético de futuras usinas com lagos de tamanho médio, com boa possibilidade de mitigação de eventuais transtornos ambientais ou para populações da área.
Se determinada obra poderá afetar a vida econômica de uma centena de pessoas, por exemplo, há alternativas imensamente mais baratas de resolver a questão, do que interromper a obra ou comprometer sua eficácia energética. Por exemplo, providenciar uma renda vitalícia às famílias afetadas, que seja mais do que ganham atualmente. Ou providenciar sua mudança para outra região, similar.

Órgãos ambientais poderão se condoer do fato das famílias trocarem o dia a dia da pesca por uma renda mensal vitalícia. Mas será que, consultadas, elas recusariam essa troca? Na outra ponta estão 190 milhões de brasileiros que necessitam da energia como fator não apenas de segurança como de promoção social. Não se trata de ganha-ganha mas de um ganha-perde.

E não se trata de tirar os direitos dos indígenas ou habitantes da selva, mas de negociar compensações e propor mudanças defensáveis, negociadas e, sob supervisão de todas as ONGs ambientais.
***
Desde os anos 70 tem-se essa questão indígena em jogo. É possível permanentemente manter índios e ribeirinhos com seu status histórico? Ora, seria possível remanejamentos negociados dentro da própria selva. Além disso, reservatórios são locais que, se bem aproveitados, podem se constituir em fontes de receita para pesca, turismo. Enfim, há um conjunto de saídas legítimas, negociadas, que dependem apenas do bom senso das partes envolvidas.

Revista Carta Capital - http://www.cartacapital.com.br/economia/a-hora-de-repensar-os-reservatorios-de-hidreletricas/

domingo, 3 de março de 2013

ECOCIDADANIA ATIVA: Esta vaga não é sua. Nem por 1 minuto...

http://estavaganaoesua.wordpress.com/

Esta vaga não é sua. Nem por 1 minuto...

http://estavaganaoesua.wordpress.com/

MORTE MECÂNICO-TEMPORAL

                                                                                                                         Nísio Miranda

Um homem,
 uma máquina,
 o tempo.
Contra o tempo corre o homem
em sua montaria blindada
com suas patas de borracha
em mínimo
atrito com
o chão.
 No tapete

de cimento
atira o 
contentamento
põe no voar a esperança
e no correr o coração.
Uma máquina, o tempo
(pós - contratempo).
Vem a ferrugem, consome a lata e
o tanto de porcas e de parafusos
até transformar em
monte de entulho,
em ferro-velho.
o TEMPO...




                                                                      

A EROSÃO DAS FONTES DE SENTIDO, POR LEONARDO BOFF (*)

25/02/2013
Já foi dito, com verdade, que o  ser humano é devorado por duas fomes: de pão e de espiritualidade. A fome de pão é saciável. A fome de espiritualidade, no entanto, é insaciável. É feita de valores intangíveis e não materiais como a comunhão, a solidariedade, o amor, a compaixão, a abertura a tudo o que é digno e sagrado, o diálogo e a prece ao Criador.
Esses valores, secretamente ansiados pelos seres  humanos, não conhecem limites em seu crescimento. Há um apelo  infinito que lateja dentro de nós. Somente um infinito real pode nos fazer repousar. A excessiva centralização na acumulação e no desfrute de bens materiais acaba por produzir grande vazio e decepção. Foi o que concluiram analistas da universidade Lausane. Algo em nós grita por algo maior e mais humanizador.
É nesta dimensão que se coloca a questão do  sentido da vida. É uma necessidade humana encontrar um sentido coerente. O vazio e o absurdo produzem angústia e  sentimento de estar só e desenraizado. Ora,  a sociedade industrialista e consumista, montada sobre a razão funcional, colocou no centro o indivíduo e seus interesses particulares. Com isso, fragmentou a realidade, dissolveu qualquer cânon social, carnavalizou as coisas mais sagradas e ironizou ancestrais convições, chamadas de “grandes narrativas”, consideradas metafísicas essencialistas, próprias de sociedades   de outro tempo. Agora funciona o “anything goes”, o vale tudo dos vários tipos de racionalidade, de posturas e de leituras da realidade.  Criou-se o relativismo que afirma que nada conta definitivamente.
A isso se chamou de pós-modernidade que para mim representa a fase mais avançada e decadente da burguesia rica mundial. Não satisfeita de destruir o presente, quer destruir também o futuro. Ela se caracteriza por um completo descompromisso de transformação e de um professado desinteresse por uma humanidade melhor. Tal postura se traduz por uma ausência declarada de solidariedade para com o destino trágico de milhões que lutam por terem uma vida minimamente digna, de poderem morar melhor do que os animais, de terem acesso aos bens culturais que lhes enriqueçam a visão do mundo. Nenhuma cultura sobrevive sem uma narrativa coletiva que confira dignidade, coesão, ânimo e sentido à caminhada coletiva de um povo. A pós-modernidade nega irracionalmente esta dado originário.
No entanto, por todas as partes do mundo, as pessoas  estão elaborando significados para suas vidas e padecimentos, buscando  estrelas-guias que lhes dêem   um norte e lhes abram um porvir esperançador. Podemos viver sem fé, mas não sem esperança. Sem ela se esta está a um passo da violência, da banalização da morte e, no limite, do suicídio.
Ora as instâncias que historicamente representavam a construção permanente do sentido, entraram modernamente em erosão. Ninguém, nem o Papa, nem Sua Santidade o Dalai Lama podem dizer seguramente o que é bom ou mau para esta quadra planetária da história humana.
As filosofias e outros caminhos espirituais respondiam por esta demanda fundamental do humano. Mas elas, em grande parte, se fossilizaram e perderam o impulso criador. Sofisticam-se cada vez mais sobre o já conhecido, sempre de novo repensado e redito mas desfibradas de coragem para projetar novas visões, sonhos promissores e utopias mobilizadoras. Vivemos um “mal-estar da civilização”, semelhante àquele do ocaso do império romano, descrito por Santo Agostinho em “A Cidade de Deus”.  Nossos  “deuses”  como os deles já não são mais críveis. Os novos “deuses” que estão despontando não são vigorosos o bastante para serem reconhecidos, venerados e lentamente ganharem os altares.
Estas crises só são superadas quando se fizer uma nova experiência do Ser essencial de onde se deriva uma espiritualidade viva. Vejamos alguns lugares onde os “novos deuses” se anunciam  e uma nova percepção do Ser aparece.
Por mais críticas que lhe devemos fazer no seu aspecto econômico e político, a globalização é, antes de tudo, um fenômeno antropológico que se expressaria melhor por planetização: a humanidade se descobre uma espécie, habitando uma única Casa Comum, o planeta Terra, com um destino comum. Tal fenômeno vai exigir uma governança global para gestionar os problemas coletivos. É algo novo.
Os Fórums Sociais Mundiais que a partir do ano 2000 começaram a se realizar a partir de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, revelam uma particularíssima irrupção de sentido. Pela primeira vez na história moderna, os pobres do mundo inteiro, fazendo contraponto às reuniões dos super-ricos na cidade suiça de Davos, conseguiram acumular tanta força e capacidade de articulação que acabaram aos milhares se encontrando primeiro em Porto Alegre, depois em outras cidades do mundo, para apresentar suas experiência de resistência e de libertação, para trocar experiências de como  criam microalternativas ao  sistema de dominação imperante, como alimentam um sonho coletivo para gritar:um outro mundo é possível, um outro mundo é necessário. É algo novo.
Nas várias edições dos Fóruns Sociais Mundiais, em níveis regional e internacional, se notam os brotos do novo paradigma de humanidade, capaz de organizar de forma diferente a produção, o consumo, a preservação da natureza e a inclusão de toda a humanidade num projeto coletivo que garanta um futuro de vida e de esperança para todos. Dai a sua importância: do fundo do desamparo humano está emergindo uma fumaça que remete a um fogo interior do lixo ao qual foram condenadas as grandes maiorias da humandiade. Esse fogo é inapagável. Ele se transformará numa brasa e num clarão a iluminar um novo sentido para humanidade. Oxalá.
*Leonardo Boff teólogo e filósofo é autor de Tempo de transcendência, Vozes 2010.
Extraído de www.leonardoboff.com