Auto de Desagravo a Bento Rodrigues
Nísio Miranda
A alma de Minas
está soterrada.
A alma dos Gerais
está enlameada.
Como repletos de lama
estão meus ouvidos,
minhas narinas,
minha boca,
meus olhos,
meus pulmões,
as estradas.
está soterrada.
A alma dos Gerais
está enlameada.
Como repletos de lama
estão meus ouvidos,
minhas narinas,
minha boca,
meus olhos,
meus pulmões,
as estradas.
Limpa, apenas a
Consciência
Dos omissos.
Consciência
Dos omissos.
Imaculada, apenas
a imprevidência
dos impunes
desse e de outros
crimes de mesma
- ironicamente - lavra.
a imprevidência
dos impunes
desse e de outros
crimes de mesma
- ironicamente - lavra.
À extensão ampliada
das crateras,
ao crescimento
desmedido dos buracos,
a inversa proporção
ao cuidado,
a ínfima preocupação
com o todo
e a percepção inflada
do lucro.
das crateras,
ao crescimento
desmedido dos buracos,
a inversa proporção
ao cuidado,
a ínfima preocupação
com o todo
e a percepção inflada
do lucro.
Ah, sagrado solo
dessas Minas!
Ah, indispensável água
dessas fontes!
Ah, vidas ceifadas
por essa sina
de ser apenas riqueza,
- mero recurso -
aos olhos
insensíveis dos
que investem e
e às burras eleitorais
dos que governam!
dessas Minas!
Ah, indispensável água
dessas fontes!
Ah, vidas ceifadas
por essa sina
de ser apenas riqueza,
- mero recurso -
aos olhos
insensíveis dos
que investem e
e às burras eleitorais
dos que governam!
E dos que, incautos,
esperam sempre o
tempo da solidariedade,
e a exercem como se se
redimissem
da ausência de convicção
e seriedade
com que deveriam
exercer suas escolhas.
esperam sempre o
tempo da solidariedade,
e a exercem como se se
redimissem
da ausência de convicção
e seriedade
com que deveriam
exercer suas escolhas.
Que dobrem os sinos
de Mariana, de Ouro Preto,
de Congonhas, do Mato Dentro,
de São Gonçalo, de Nova Lima,
de Sabará, de Santa Bárbara!
Que dobrem, de Minas, todos sinos!
Pelas mulheres, pelas meninas,
pelos homens, pelos meninos,
por suas almas, por seus destinos,
Dobrem, dobrem, de Minas, todos os sinos!
de Mariana, de Ouro Preto,
de Congonhas, do Mato Dentro,
de São Gonçalo, de Nova Lima,
de Sabará, de Santa Bárbara!
Que dobrem, de Minas, todos sinos!
Pelas mulheres, pelas meninas,
pelos homens, pelos meninos,
por suas almas, por seus destinos,
Dobrem, dobrem, de Minas, todos os sinos!
Que dobrem, de Minas, todos os sinos!
Pelos que dormem, pelos que sonham,
pelos poderosos, pelos pequeninos,
pelos que choram, pelos de antes,
pelos de hoje, pelos que virão...
Pelas panelas, ora silentes.
pelos poderosos, pelos pequeninos,
pelos que choram, pelos de antes,
pelos de hoje, pelos que virão...
Pelas panelas, ora silentes.
Dobrem, dobrem, sinos de Minas!
Pelos eleitos, pelos esquecidos,
pelos atingidos, pelos que não viram,
pelos ungidos, que aqui não vivem,
mas sofrem, solidários e melancólicos,
a dor planetária de Gaia ferida
pelos atingidos, pelos que não viram,
pelos ungidos, que aqui não vivem,
mas sofrem, solidários e melancólicos,
a dor planetária de Gaia ferida
Dobrem, dobrem, de Minas, todos os sinos!
Sinos ironicamente fundidos
da mesma matéria,
da mesma omissão,
da mesma inconsequência,
da mesma hipocrisia.
da mesma irresponsabilidade
do mesmo vil e sórdido metal que,
per saecula saeculorum,
cruelmente, nos soterram;
impunemente, nos assolam.
da mesma matéria,
da mesma omissão,
da mesma inconsequência,
da mesma hipocrisia.
da mesma irresponsabilidade
do mesmo vil e sórdido metal que,
per saecula saeculorum,
cruelmente, nos soterram;
impunemente, nos assolam.
Nísio Miranda é Bacharel em Direito, Especialista para o magistério superior em Direitos Difusos e Coletivos, Especialista em Poder Legislativo, poeta e ambientalista.
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